Montagem de palco de evento geek esconde estátua de Deolinda Madre na Liberdade e gera protestos e acusações de racismo

No último domingo (17), um evento de cultura geek realizado na Liberdade, centro de São Paulo, provocou polêmica ao montar um palco que escondia a estátua em homenagem a Deolinda Madre. O ato gerou protestos e acusações de racismo.

A estátua homenageia Madrinha Eunice, fundadora da Lavapés, uma das mais antigas escolas de samba da cidade, na década de 1930. A escultura foi inaugurada no ano passado como parte de um projeto do Departamento de Patrimônio Histórico da prefeitura, que visa homenagear figuras negras importantes para a história da cidade.

O evento, intitulado Festival Cultura Geek, foi organizado pela Associação Brasil Nippo, com apoio da prefeitura. Após a repercussão negativa, a associação divulgou uma nota de retratação expressando sua indignação com o incidente. Segundo eles, a montagem do palco era responsabilidade de uma empresa terceirizada contratada pela prefeitura.

A associação afirmou ainda que, ao tomar conhecimento do ocorrido, imediatamente desativou a programação do palco. De acordo com o comunicado, em nenhum momento houve intenção de desrespeitar a memória de Madrinha Eunice e da comunidade negra.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) declarou que a localização exata do palco foi determinada pelo promotor do evento e que o caso está sendo investigado. A Secretaria Municipal de Cultura também se manifestou, ressaltando que considera o episódio um desrespeito à memória da sambista e tomará todas as medidas cabíveis para evitar que situações semelhantes se repitam.

A União das Escolas de Samba Paulistanas (Uesp) publicou uma nota repudiando o ocorrido e exigindo respostas. Segundo a Uesp, a estátua de Madrinha Eunice foi ignorada, segregada e apagada durante o evento. Essa atitude não pode ser aceita, e a Uesp lutará por mudanças na postura e por respeito.

Durante o evento, um grupo de mulheres realizou uma manifestação com cartazes em protesto. Rosana Rufino, presidente da Comissão da Verdade da OAB-SP, declarou à TV Globo que lutar pelo direito à memória é fundamental, e violar esse direito ao montar um palco sobre o espaço da estátua representa um retrocesso histórico para o movimento negro e para toda a sociedade.

O episódio levanta questões importantes acerca do respeito à memória e à cultura negra, mostrando a necessidade de conscientização e reflexão sobre o legado das pessoas negras na história da cidade e do país. Espera-se que a investigação em curso apure os fatos e que medidas sejam tomadas para que atos como esse não se repitam. A luta por igualdade e justiça continua.

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