Um estudo realizado por cientistas brasileiros apontou que filhos de pais que consomem frutose em excesso apresentam precocemente distúrbios nos sistemas nervoso autônomo, cardiovascular e metabólico. Esses problemas aumentam o risco de desenvolverem doenças crônicas, como diabetes e obesidade, na fase adulta.
Os resultados do estudo foram publicados no International Journal of Obesity e confirmam dados da literatura científica relacionados ao surgimento de distúrbios metabólicos em descendentes de pais com consumo excessivo de frutose. Além disso, a pesquisa também identificou o aumento da pressão arterial e um comprometimento na sensibilidade do barorreflexo nessa prole.
Embora a frutose seja conhecida como o “açúcar natural das frutas”, ela também compõe o xarope de milho, amplamente utilizado pela indústria alimentícia e de bebidas na produção de bolachas recheadas, doces e refrigerantes. O consumo excessivo desse carboidrato simples tem sido associado às altas taxas de sobrepeso e obesidade na população mundial, incluindo crianças.
A fisiologista Kátia De Angelis, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autora correspondente do artigo, avalia que o estudo reforça a importância do sistema nervoso autônomo (SNA) na regulação de várias funções corporais e pode ser um sinalizador para detectar precocemente a propensão de crianças a desenvolverem doenças na fase adulta. Segundo ela, a medicina preventiva é fundamental para evitar problemas futuros.
A pesquisa também aponta para a preocupante pandemia de obesidade, que atinge mais da metade da população global e está em crescimento acelerado, inclusive no Brasil. O consumo excessivo de frutose tem sido associado a essa tendência de sobrepeso e obesidade na população.
De acordo com os pesquisadores, a ingestão em grande quantidade de frutose pode aumentar a produção de ácidos graxos no fígado, promovendo o acúmulo de triglicérides e o ganho de peso corporal, além de estar associada à elevação de moléculas inflamatórias envolvidas no desenvolvimento de outras doenças.
Diante desse cenário, a Associação Americana do Coração (AHA) recomenda limitar a ingestão de açúcar a 100 calorias por dia para mulheres e 150 calorias para homens, para uma dieta saudável. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza um consumo máximo equivalente a 10% das calorias diárias em açúcar.
A pesquisa liderada pela fisiologista Kátia De Angelis é mais um passo importante no entendimento dos efeitos do consumo excessivo de frutose, e os pesquisadores agora estão buscando alternativas terapêuticas e avaliando o impacto do treinamento físico nesses casos, visando prevenir problemas metabólicos e cardiovasculares em crianças.