Professor da Uneb destaca desconhecimento sobre quilombos e defende diálogo entre escolas e educação quilombola.

De acordo com o professor Eduardo Santana, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), existe uma ignorância generalizada sobre a presença e o papel formativo dos quilombos na história do Brasil. O especialista, que também é ex-diretor do bloco afro Malê Debalê e atual conselheiro municipal de educação em Salvador, destaca a falta de diálogo entre as escolas e os conhecimentos da educação quilombola, ressaltando que muitos gestores municipais nem sequer têm consciência da existência de comunidades quilombolas em seus municípios.

Durante suas pesquisas, o professor identificou que as comunidades quilombolas, como Barra, Bananal e Riacho das Pedras, no município de Rio de Contas (BA), baseiam-se em métodos e estruturas de ensino que preservam a ancestralidade. Elementos como a escuta aos mais velhos, o respeito à natureza, a religiosidade e a oralidade são características típicas da educação quilombola e garantem o respeito à própria história.

Desde seu mestrado até os dias atuais, Santana constatou um déficit no conhecimento acerca dos saberes quilombolas dentro das escolas, resultando em estereótipos e na falsa ideia de que os quilombos são territórios isolados. Ele destaca que os antigos quilombos foram sendo agregados aos subúrbios, guetos e favelas à medida que as cidades foram crescendo, mas em uma perspectiva de pouco acesso a políticas públicas.

A inclusão da população quilombola no Censo 2022 do IBGE foi um marco importante, resultando de anos de pressão de entidades quilombolas ao Instituto. Os dados revelaram que dos 1.696 municípios com quilombolas, apenas 326 contam com territórios delimitados, e somente 12,6% da população quilombola reside em territórios oficialmente reconhecidos.

Santana destaca a necessidade de capacitar educadores adequadamente para a inserção da educação quilombola e reverter os impactos da falta de informação. Além disso, ele ressalta a importância da divulgação dos dados do Censo para garantir a aplicação de recursos e políticas públicas voltadas para as especificidades da população quilombola.

A Bahia foi identificada como o estado com maior população quilombola, representando 29,9% da população autodeclarada dessa forma em todo o país. Salvador é a segunda cidade mais quilombola do Brasil, e 5 das 10 cidades mais quilombolas estão na Bahia.

O professor Eduardo Santana destaca a importância de compreender as particularidades dos quilombos e promover um investimento na formação de professores e no reconhecimento dessas comunidades. Ele ressalta que é necessário avançar na perspectiva dos gestores públicos para garantir a valorização e o atendimento adequado às comunidades quilombolas.

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