A comercialização do ‘grude’, parte interna da bexiga do peixe, impulsiona um lucrativo mercado no Norte do país. (15 palavras)

No domingo de manhã, a zona portuária de Bragança, no Pará, apresentava um movimento quase nulo. As ruas estavam vazias, exceto por algumas pessoas que ainda estavam ali desde a noite anterior, se divertindo ao som de música vindo de um carro estacionado. No cais, apenas uma embarcação estava sendo lavada por funcionários após o descarregamento de mercadorias na noite anterior. Por volta das 8h, um barco atracou no porto com cerca de uma dúzia de pessoas que começaram a tirar peixes frescos do seu porão.

Enquanto isso, em uma rua próxima à igreja matriz, uma loja destacava-se com uma fachada que dizia “Compra-se grude”. Grude é o nome dado à bexiga natatória dos peixes, que é utilizada na produção de cola e cosméticos, além de ser bastante valorizada na China por suas supostas propriedades medicinais, sem comprovação científica. A demanda asiática gera um mercado milionário no Norte do Brasil.

Apesar de a exploração da bexiga não ser proibida, a prática pode envolver irregularidades, como a pesca por embarcações ilegais e a captura de espécies ameaçadas. A pesca na região se divide entre a artesanal, voltada para subsistência e venda local, e a industrial, que visa principalmente a extração do grude, que tem um preço elevado no mercado internacional.

A pesca industrial e a sobrepesca afetam as comunidades de pescadores artesanais, causando escassez de peixes para a subsistência e provocando desequilíbrios ecológicos. Os estoques das espécies de interesse econômico, como a pescada-amarela e a gurijuba, estão diminuindo devido à pressão pesqueira, levando as embarcações a procurarem outras espécies para a extração do produto.

Além disso, a cadeia do grude pode envolver infrações sanitárias na retirada e manipulação do produto. Recentemente, mais de 90 kg de grude foram apreendidos pela polícia no Pará, avaliados em R$ 252 mil. A retirada da bexiga é feita nas próprias embarcações, ainda em alto-mar, e o produto é enviado para fora do país.

Muitos pescadores são explorados pelos donos das embarcações, que fornecem o material de pesca e combustível, mas exigem uma parcela significativa da venda ou dos próprios produtos, gerando uma dívida constante para os pescadores. As legislações de proteção às espécies brasileiras e o combate à sobrepesca são questionados, já que não há atualmente proibição à exploração da bexiga natatória do pescado.

O Ministério da Pesca e Aquicultura afirma que não há embarcações estrangeiras atuando de forma legal na costa brasileira e que está atualizando as normas de ordenamento para coibir a pesca ilegal. O Ibama atua na fiscalização de embarcações irregulares e a Secretaria de Segurança Pública e Defesa investiu em novas embarcações para fiscalizar crimes ambientais nos rios da região.

Em suma, a exploração da bexiga natatória dos peixes no Pará não é proibida, mas apresenta diversas irregularidades e impactos negativos, tanto sociais quanto ambientais. A pesca industrial e a demanda asiática por grude estão causando a diminuição dos estoques de peixes e afetando a subsistência dos pescadores artesanais. Além disso, a falta de regulamentação adequada e a exploração descontrolada podem gerar infrações sanitárias e crimes ambientais. É preciso um maior controle e fiscalização por parte das autoridades para garantir a sustentabilidade da pesca na região.

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