Comunidade quilombola no Tocantins luta por proteção histórica de cemitério ancestral ameaçado por fazendeiros

A comunidade quilombola de Rio Preto, localizada no estado do Tocantins, enfrenta uma disputa por território com fazendeiros da região, além de lidar com a falta de proteção histórica e cultural oficial para o cemitério Campo Santo, onde seus ancestrais são enterrados há mais de um século. Recentemente, o governo do estado e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) visitaram a região para coletar informações sobre o local, que poderá se tornar um sítio arqueológico.

No passado, a comunidade construía lápides de pedra para os túmulos, mas essa prática não é mais utilizada atualmente. Apesar disso, ainda é possível encontrar as antigas lápides e os túmulos envoltos em árvores. No entanto, sem qualquer proteção oficial, a comunidade é responsável pela preservação do cemitério.

A situação se agravou recentemente, quando tiros foram disparados contra o quilombo e uma casa foi incendiada. A Secretaria da Segurança Pública do Tocantins intensificou o policiamento na região e está investigando essas ocorrências. O quilombo do Rio Preto está em processo de reconhecimento na Fundação Cultural Palmares, com registros de pelo menos seis gerações vivendo no local.

Segundo Ana Mumbuca, diretora de Proteção aos Quilombolas do Governo do Tocantins, a Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais convidou o Iphan para realizar um estudo e tornar o local um sítio arqueológico, o que garantiria uma maior proteção para o cemitério.

A preservação dos cemitérios faz parte da cultura local e os rituais são mantidos pelas famílias da comunidade quilombola Rio Preto. Além disso, os moradores compartilham ritos ancestrais como festas, orações e danças africanas com significado espiritual.

No entanto, a falta de proteção legal do território levou a comunidade a se sentir desamparada. José Tomaz Lopes, agricultor e filho de um dos mais antigos residentes da região, relata que já receberam propostas para vender o terreno e que se sentem oprimidos após viverem conflitos com os fazendeiros, que invadem a região desde o início da pandemia.

Em setembro deste ano, a Associação da Comunidade Rio Preto se reuniu com representantes do governo estadual e federal para apelar por proteção à área. A Secretaria estadual dos Povos Originários e Tradicionais afirma que realiza o mapeamento social do território e apoia a abertura do processo para o reconhecimento da comunidade quilombola pela Fundação Palmares.

Enquanto a comunidade luta pela proteção de seu território e preservação de sua história, a situação continua desafiadora. A expectativa é que, com o reconhecimento do quilombo por parte da Fundação Palmares e a possível transformação do cemitério em um sítio arqueológico, haja uma maior valorização e proteção da memória ancestral dos quilombolas de Rio Preto.

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