A análise considera dados coletados entre 2011 e 2021 sobre a incidência da Aids no Brasil. Durante esse período, a porcentagem de negros, incluindo autodeclarados como pretos e pardos, que foram vítimas da doença aumentou de 52,6% para 60,5%.
Além disso, a quantidade de casos notificados entre os negros cresceu significativamente ao longo dos anos. Em 2011, eles representavam 50,3% do total de casos, mas em 2021 esse número chegou a 62,3%.
O boletim também aponta uma situação preocupante em relação à incidência da Aids em gestantes. Quase 70% das grávidas diagnosticadas com HIV são negras. A notificação de gestantes com HIV é obrigatória no Brasil desde o ano 2000, em uma tentativa de evitar a chamada “transmissão vertical” da doença para o bebê. No entanto, os dados mostram que é necessário fortalecer essa estratégia.
A situação se agrava ainda mais ao considerar os mais jovens. Entre as pessoas de 14 anos que receberam o diagnóstico da doença, 71,2% são negras. Essa proporção diminui nas faixas etárias mais avançadas.
A Aids é considerada uma doença socialmente determinada, estando associada à exclusão, o que indica a vulnerabilidade da população negra em diversos aspectos sociais. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destaca a importância de levar esses aspectos em consideração para promover o acesso à saúde nesse grupo.
Durante o lançamento do boletim, as autoridades do Ministério da Saúde classificaram como “inaceitável” a taxa de mortalidade por hipertensão entre gestantes negras, que subiu de 36,4% em 2010 para 39,7% em 2020.
A ministra também ressaltou a importância de trabalhar nas políticas de combate ao racismo para superar esses números alarmantes. Em abril, o Ministério da Saúde tornou obrigatória a classificação da cor da pessoa atendida no SUS, o que visa melhorar a qualidade dos dados e fornecer informações mais precisas sobre a situação da saúde da população negra.
Esses dados revelam uma realidade alarmante e exigem ações por parte das autoridades de saúde para enfrentar as desigualdades que afetam a população negra. É fundamental fortalecer políticas públicas voltadas para esse grupo, garantindo acesso igualitário aos serviços de saúde e promovendo ações de prevenção e conscientização sobre a Aids. Somente assim será possível combater efetivamente essa doença e reduzir as mortes entre a população negra.