A curadoria da galeria ficou a cargo do historiador Mario Brum, que é professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo Brum, a intenção da exposição é mostrar que a Maré também faz parte do Rio de Janeiro e ressaltar que é um território construído pelos próprios moradores, muitas vezes em condições precárias e sem apoio do Estado. Ele destacou que a galeria aborda dois aspectos principais: a construção do território e a formação da identidade dos moradores.
Ao longo do tempo, o território onde as 16 favelas da Maré estão localizadas passou por diversas transformações. No entanto, a galeria tem como objetivo evidenciar que cada uma das favelas tem sua própria história e trajetória e que o território atual está fortemente ligado à história das favelas. Vale ressaltar que oficialmente, a Maré é um bairro do Rio desde 1994.
A galeria também aborda um episódio importante na história da Maré, que foi o plano de erradicação das favelas anunciado pelo então ministro do Interior, Mário Andreazza, no governo João Figueiredo, durante a ditadura militar. Os moradores organizaram um comitê de defesa da Maré e conseguiram transformar o projeto de remoção em um projeto de urbanização. Posteriormente, foram inaugurados na Maré a Vila do João e o Conjunto Pinheiro, frutos do Projeto Rio.
Brum enfatizou a importância da Maré para o Rio de Janeiro, destacando que é um território com uma história rica e que produz muito conhecimento, apesar de ser frequentemente associado à criminalidade. Ele ressaltou o papel dos jovens ativistas e das lideranças comunitárias na luta pela vacinação contra a covid-19 e por diversos direitos.
Além disso, o historiador ressaltou que a Maré enfrenta diversos tipos de preconceito e abriga a primeira casa de acolhida a pessoas LGBTQIA+ em favelas. Ele ressaltou que o território é habitado por pessoas que contribuíram de diversas maneiras para a cidade, seja na construção de obras como a Avenida Brasil, seja no trabalho na Ilha do Fundão, e que recebem pouco em troca do Estado.
Por fim, Brum defendeu que o Estado deveria olhar para a Maré com mais atenção e gratidão, uma vez que a região possui um forte passivo ambiental decorrente de obras como a construção da Linha Vermelha e do aterro na Ilha do Fundão.
O museu virtual Rio Memórias é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a cultura e a preservação do patrimônio histórico e artístico, por meio da divulgação da história e cultura da cidade do Rio de Janeiro, e também realizar projetos e atividades relacionadas à educação. Além da galeria Rio de Marés, o museu abriga diversas outras galerias que abordam diferentes aspectos da história da cidade.
Com a inauguração da galeria Rio de Marés, o museu virtual Rio Memórias busca ampliar a visibilidade e valorizar a história e a identidade dos moradores da Maré, reconhecendo a importância desse território para o Rio de Janeiro.
