Prefeitos criticam demarcação de Terra Indígena Kapôt Nhĩnore sem consulta prévia aos municípios, gerando contestação e proposta de CPI

Prefeitos de municípios localizados em Mato Grosso e no Pará criticaram o início do processo de demarcação da Terra Indígena Kapôt Nhĩnore. Segundo eles, os municípios interessados não foram consultados previamente pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) antes da aprovação dos estudos de identificação e demarcação das terras, em julho.

Nesta quarta-feira (27), os prefeitos foram ouvidos por uma comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha o tema. A deputada Coronel Fernanda, coordenadora do grupo, informou que está recolhendo assinaturas para a abertura de uma CPI, a fim de investigar as demarcações sem a devida consulta às pessoas envolvidas.

A Terra Indígena Kapôt Nhĩnore abrange uma área de 362.243 hectares nos municípios de Vila Rica e Santa Cruz do Xingu, no estado de Mato Grosso, e São Félix do Xingu, no Pará. Essa área é considerada sagrada pelos povos Yudjá (Juruna) e Mebengokrê (Kayapó). O cacique Raoni, liderança indígena que há 40 anos reivindica a área, nasceu nessa região.

Durante a reunião, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e a presidente da Funai, Joenia Wapichana, asseguraram que o processo de demarcação seguirá o Decreto 1.775/96, que estabelece o procedimento administrativo para demarcação de terras indígenas. Além disso, será garantido o prazo de 90 dias para que os interessados possam contestar a demarcação.

No entanto, os prefeitos criticaram a falta de comunicação da Funai com os municípios e destacaram a ausência de indígenas na região. A prefeita de Santa Cruz do Xingu, Joraildes Soares de Sousa, afirmou que há pessoas que vivem há mais de 40 anos no município e nunca viram um índio. Ela questiona a inclusão do estudo que alega a presença de indígenas em Santa Cruz do Xingu.

O prefeito de Vila Rica, Abmael da Silveira, reclamou da falta de critérios para a demarcação e dos possíveis prejuízos aos proprietários de terra. Atualmente, a Constituição prevê que os proprietários de terras demarcadas não têm direito à indenização sobre a terra nua, apenas pelas melhorias feitas no terreno.

Durante a reunião, especialistas em assuntos indígenas de Mato Grosso também afirmaram desconhecer a presença da nação Kayapó no território que abarca a demarcação. Agnaldo dos Santos, superintendente de Assuntos Indígenas do estado, afirmou que conhece as 43 etnias de Mato Grosso e nunca recebeu informações sobre essa comunidade indígena.

Diante dessas críticas, a abertura de uma CPI para investigar o processo de demarcação da Terra Indígena Kapôt Nhĩnore se mostra como uma possibilidade concreta. Essa comissão tem o objetivo de assegurar a transparência e a participação dos envolvidos no processo, além de garantir o respeito aos direitos e interesses das comunidades locais e dos povos indígenas. Resta aguardar os próximos desdobramentos desse caso.

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