Mulheres mantêm tradição de influência nos quilombos 400 anos após fundação de Palmares, apontam estudos e práticas atuais.

Há mais de 400 anos, desde a fundação do quilombo dos Palmares, as mulheres têm desempenhado um papel crucial nas comunidades quilombolas do Brasil. Mesmo após tanto tempo, a influência e a liderança feminina continuam fortes e marcantes nessas comunidades, mantendo uma herança que remonta às suas origens africanas.

Segundo a historiadora Ynaê Lopes dos Santos, os primeiros quilombos surgiram na África, em contexto de aprisionamento e escravidão dos africanos para as Américas. Dessa forma, as fugas e a formação das comunidades quilombolas foram fundamentais para a resistência e perpetuação da cultura africana no Brasil.

Nos reinos africanos e posteriormente nos quilombos das Américas, as mães dos reis desempenhavam papéis marcantes, influenciando diretamente na escolha dos sucessores para o trono. “Elas acabam tendo uma influência na vida dos reis maior que o próprio pai, o rei anterior. Esse papel, ao que tudo indica, se mantém em Palmares, além da participação das mulheres como guerreiras militares”, afirma a historiadora Ynaê.

O quilombo Muquém, situado na região onde estava localizado o histórico quilombo chefiado por Zumbi dos Palmares, é um exemplo de como a liderança feminina é uma tradição viva. Fundado por cinco irmãs após a dissolução de Palmares em 1695, a história desse quilombo ainda vive na prática e nos estudos das comunidades remanescentes quilombolas. Angela Nunes, descendente direta de uma das fundadoras, relata que, por muito tempo, a origem desse quilombo foi mantida em segredo, mas com o tempo, houve um esclarecimento sobre a importância dessas mulheres para a comunidade.

Hoje, a liderança do quilombo Muquém é feminina, representada por Maria da Dores, conhecida como Dorinha Cavalcanti, que assumiu a presidência da associação de Muquém em 2010. Além disso, foi formada uma união de mulheres na comunidade, visando o fortalecimento e empoderamento feminino. Angela Nunes, professora na região, busca manter viva a tradição dos quilombos e valorizar a cultura afro-brasileira por meio do ensino às crianças.

Apesar da ausência de documentação comprovando a existência da guerreira Dandara, esposa de Zumbi dos Palmares, o papel das mulheres como guerreiras e agricultoras nos quilombos é inegável. Segundo os pesquisadores, Dandara representa e sintetiza o papel de diversas guerreiras quilombolas da época, simbolizando a luta das mulheres negras no Brasil.

A história dos quilombos é uma história de resistência à escravidão e uma mostra da força e da ação negra no país, e a representatividade das mulheres nessa história revela a importância e o poder feminino ao longo dos séculos.

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