Favelas: Quebrando barreiras e avançando no movimento ESG para promover o desenvolvimento sustentável e a inclusão

O empreendedorismo nas comunidades periféricas é uma realidade necessária para a sobrevivência dos moradores. Desde cedo, eles precisam encontrar soluções e se adaptar às circunstâncias adversas, uma vez que poucos têm acesso a empregos formais. No entanto, apesar da importância desse segmento da população, muitas vezes os gestores das empresas encaram a contratação de moradores de favelas como um simples cumprimento de políticas de diversidade, enxergando-os como uma força de trabalho barata e pouco escolarizada.

O racismo estrutural é um fator ignorado nesse discurso. Cada vez que uma pessoa negra ou favelada consegue avançar, a régua sobe e muda de lugar. O problema não é apenas “baixar a régua” para promover a diversidade, mas sim quebrar as barreiras e a discriminação que impedem esses indivíduos de progredir.

É nas favelas que encontramos a capacidade de inovação, a coragem para testar novas ideias e a conexão com o consumidor. De acordo com dados do IBGE, as comunidades periféricas movimentam anualmente R$ 119 bilhões. Os moradores desses territórios são capazes de criar narrativas mais comunitárias e desenvolver tecnologias sociais avançadas para resolver os problemas locais. Portanto, é impossível pensar em estratégias ESG (Ambiental, Social e Governança) sem incluir a favela nesse movimento.

Embora o ESG seja rentável e necessário para transformar os negócios, nem todas as empresas o enxergam como algo positivo e aplicável em suas práticas. Ainda há aquelas que se concentram nas barreiras e nas dificuldades de se adaptar, alegando que isso desvia o foco dos negócios. Até mesmo as empresas que aparentemente se engajam com o tema acabam praticando mais discurso do que ação concreta.

No contexto das favelas, esse distanciamento é ainda mais evidente. Muitas empresas dominam o conhecimento e impõem suas práticas, métodos e visões de mundo, anulando o conhecimento potente presente nesses espaços. Em vez de promover uma troca de experiências, elas impõem sua própria perspectiva sem considerar as necessidades das favelas.

No entanto, a favela possui tecnologia e conhecimento, e as empresas têm muito a aprender com aqueles que sobrevivem e criam possibilidades diariamente nesses territórios. É essencial que haja uma conexão e colaboração real entre as empresas e as comunidades, uma abordagem de ações “com” e não “para”. As soluções devem ser pensadas coletivamente, levando em consideração o conhecimento negro e periférico, que também é ancestral.

Algumas formas práticas de atuação real das empresas nas periferias incluem a escuta e o estabelecimento de parcerias com organizações locais que já conhecem as necessidades do território. O apoio a projetos de educação e formação nas comunidades, bem como a promoção da diversidade e inclusão no ambiente de trabalho, são medidas que podem trazer benefícios significativos. Além disso, contribuir financeiramente ou colaborar com projetos de melhoria da infraestrutura nas favelas é fundamental para mudar as realidades locais e promover o desenvolvimento econômico.

As empresas devem reconhecer que não é uma falta de capacidade e conhecimento que impede a inclusão das favelas, mas sim a falta de compromisso, colaboração e compartilhamento de recursos. Elas têm o poder de contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento sustentável das comunidades, ao mesmo tempo em que promovem seus próprios objetivos de negócios e práticas ESG. Portanto, é hora de começar a agir e valorizar o conhecimento presente nas favelas.

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