Alagamento em canteiro de obras do Metrô de SP expõe sítio arqueológico do Quilombo Saracura, gerando polêmica e investigações.

As fortes chuvas que atingiram a região central da cidade de São Paulo na terça-feira (5) causaram alagamentos no canteiro de obras da Estação Saracura/14 Bis da futura linha Laranja do Metrô. O local, situado no bairro do Bixiga, revelou um sítio arqueológico durante as escavações, possivelmente relacionado ao Quilombo Saracura do século 19.

O Movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai, que defende a preservação da história da população negra na região, solicitou medidas para conter os danos ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Além do alagamento, houve o rompimento de um duto que resultou em uma grande erosão, destruindo parte da calçada e arrastando dois carros na Rua Paim, próxima ao sítio arqueológico e onde outras obras do metrô estão em andamento.

Em fevereiro do ano passado, o Iphan recomendou a interrupção dos trabalhos arqueológicos devido ao período chuvoso. Posteriormente, a concessão da Linha Uni, responsável pelas obras do metrô, teve que cumprir uma série de exigências documentais e de segurança no canteiro para retomar as escavações. Somente em julho foi possível reiniciar efetivamente o resgate de peças no local.

No período de julho a setembro do ano passado, foram removidos do sítio arqueológico 7,1 mil itens, incluindo fragmentos de cerâmica, louça, pedaços de couro, vidro, dentes de animais e vestígios de tecido. Alguns objetos chamaram a atenção dos arqueólogos, como um cachimbo cerâmico com detalhes em alto-relevo, possivelmente usado por populações afro-brasileiras. Também foi encontrada uma panela com cabo que pode ter sido utilizada em rituais.

A escavação do sítio arqueológico foi identificada em abril de 2022, após o início das obras da Estação Saracura/14 Bis, que desalojaram a Escola de Samba Vai-Vai. A concessão Move São Paulo solicitou dispensa de estudos arqueológicos em áreas do Bixiga e da Liberdade, pontos de interesse histórico ligados à população negra da cidade. Atualmente, o movimento Saracura Vai-Vai pede revisão do licenciamento para as obras, e o Ministério Público Federal investiga as autorizações concedidas.

A concessionária Linha Uni, com participação do grupo espanhol Acciona, do banco francês Société Générale e do fundo Stoa, ainda não se pronunciou sobre o incidente. A situação dos trabalhos no canteiro de obras e as investigações em curso continuam a gerar questionamentos sobre a preservação do patrimônio histórico e cultural na região central de São Paulo.

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