Acordo da COP28 em Dubai terá pouco impacto na indústria petrolífera do Golfo, estimam especialistas e responsáveis, restrições adotadas.

O acordo adotado na quarta-feira (13) na COP28, a conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), em Dubai, sobre a progressiva eliminação das energias fósseis terá, a curto prazo, pouco impacto na indústria petrolífera no Golfo, estimam responsáveis e especialistas.

O influente ministro da Energia da Arábia Saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, apressou-se a minimizar o alcance do documento em entrevista ao portal Al Arabiya Business.

O príncipe sublinhou que este acordo não teria “nenhum impacto” nas vendas de petróleo do seu país, que é o maior exportador do mundo. Segundo ele, o texto “não impõe nada” aos países produtores e permite-lhes reduzir as suas emissões “de acordo com os seus recursos e interesses”.

Ele assinalou, ainda, que não se trata de um “acordo sobre a eliminação imediata ou progressiva das energias fósseis, mas sim de um processo de transição”.

“No que existe agora, a questão do descarte imediato e gradual [dos combustíveis fósseis] foi enterrada”, disse Salman, que agradeceu aos anfitriões dos Emirados Árabes Unidos, dizendo que houve plena coordenação entre os dois países.

“Houve uma cooperação perfeita entre nós. Eles não nos abandonaram, estávamos sempre coordenando e consultando constantemente, e nos deram prioridade que eu acho que nunca vi em nenhuma conferência desse tipo”, disse ele.

Abdel Aziz ben Salman já havia demonstrado anteriormente sua oposição à inclusão de uma redução dos combustíveis fósseis no acordo.

O acordo da COP28 estipula que os países façam a transição de acordo com “circunstâncias, caminhos e abordagens nacionais diferentes”. O texto omitiu qualquer menção de “redução progressiva” ou “eliminação progressiva” destas energias.

O documento, aprovado por cerca de 200 países, é o fruto de compromissos negociados pelo presidente da COP28, Sultan Al Jaber, que também dirige a petrolífera estatal Adnoc.

A agência de imprensa oficial dos Emirados Árabes Unidos, WAM, qualificou o texto de “mutuamente vantajoso” e viu na COP28 um “momento decisivo na luta contra as alterações climáticas”.

Produzir petróleo durante décadas

Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, grandes petroestados, investem também em energias renováveis e afirmam que querem descarbonizar as suas economias.

Segundo analistas, as monarquias do Golfo não ignoram as oportunidades econômicas da transição energética.

“[Essas nações] continuarão produzindo e exportando petróleo durante décadas”, declarou à agência de notícias AFP Ben Cahill, pesquisador do programa de segurança energética e de alterações climáticas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, think tank norte-americano.

“Mas os Emirados também investem para criar um sistema energético mais diversificado e são considerados um ator mundial no financiamento da transição energética”, acrescentou.

O especialista em Oriente Médio Andreas Krieg considerou o acordo algo importante, que define uma tendência.

“Acredito que se trata de uma mudança de discurso para os Países do Golfo, que compreendem que a intenção de eliminar gradualmente as energias fósseis será compensada por uma demanda relativamente estável de petróleo e, sem dúvidas, de gás nas próximas décadas fora dos países desenvolvidos”, afirmou.

A pergunta de um milhão de dólares

Para Cinzia Bianco, pesquisadora do Conselho Europeu de Relações Internacionais, a forma como a Arábia Saudita aderiu ao acordo é “a questão de um milhão de dólares”.

“Os Emirados Árabes Unidos se beneficiam da produção de energias fósseis, mas já se comprometeram com esta transição, muito antes de outros produtores”, analisou. “Era mais fácil para eles do que para os sauditas, que não estavam tão dispostos a comprometer-se”.

Segundo Krieg, a posição saudita “deve ser considerada à luz da crescente competição entre os países do Golfo”. “Tendo em conta que o consenso mundial era tão forte e esmagador, a Arábia Saudita não queria ficar isolada”.

Kristian Ulrichsen, que lidera a missão no Oriente Médio do Instituto Baker, em Houston, Texas, a COP28 foi de especial importância para os Emirados Árabes Unidos.

“[O país] investiu muito capital político e diplomático na COP28 e queria precisamente este tipo de declaração histórica, que associaria os Emirados Árabes Unidos ao estabelecimento da agenda mundial e a um novo consenso sobre o caminho a seguir”, declarou.

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