Líderes Guarani Kaiowá encerram encontro com demandas por demarcação de terras e segurança após documentaristas sofrerem agressão de fazendeiros.

Lideranças indígenas da etnia guarani kaiowá encerraram neste domingo (26) um encontro no Mato Grosso do Sul para discutir os diversos tipos de problemas vividos nas aldeias em áreas como saúde, educação e questões relacionadas à demarcação de terras e a violência praticada por fazendeiros contra a população.

Em meio aos debates, que abordaram os muitos casos de violência praticados contra indígenas, dois documentaristas não indígenas que participaram do encontro e estão preparando um filme sobre a situação dos guarani sentiram na pele a violência que assola os povos indígenas da região, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Organizado pela Aty Guasu, o encontro iniciado no dia 21 resultou em um documento com demandas que serão apresentadas a autoridades. Nesta edição, as principais reivindicações estão voltadas à homologação de terras e demarcações.

“A Aty Guasu é uma organização que existe desde 1970. É a grande assembleia do povo Guarani Kaiowá e Guarani Nhandeva da qual meus bisavós e avós fizeram parte. Crescemos no movimento, lutando diariamente por nossos territórios”, explicou à Agência Brasil a comunicadora da entidade, Sally Ñhandeva, também integrante da Apib.

Sally explica que o objetivo da assembleia está focado principalmente no debate sobre o que falta nas aldeias. “Fala também da demarcação de terra. Nós, Guarani Kaiowá, somos o povo que mais sofre e o que mais briga pelo nosso território. Por isso, denunciamos também a falta de proteção em nosso estado. Somos um povo que resiste; um povo que sempre estará pronto para morrer pela nossa terra. Fazemos esta assembleia para isso: colocar as nossas demandas no papel e entregar para as autoridades”, acrescentou.

O jornalista canadense Renaud Philippe, 39 anos, e sua esposa, a antropóloga brasileira Ana Carolina Mira Porto, 38 anos, estão preparando um fotodocumentário sobre a luta kaiowá e guarani pela demarcação das terras e sobre a realidade de acampamentos, territórios e retomadas.

Após participarem da assembleia promovida pela Aty Guasu, decidiram deixar o evento indígena e ir até uma aldeia de Iguatemi onde pretendiam filmar, após terem ouvido relatos de que dois indígenas haviam desaparecido.

Posteriormente, os dois indígenas foram encontrados mas, por questão de segurança, seus nomes não foram divulgados. Em nota, a Apib informou que eles estavam feridos e que a suspeita é de que teriam sido sequestrados por fazendeiros da região, tendo em vista que se trata de uma área de conflito.

Durante o deslocamento para a aldeia, para averiguar o caso, o casal de documentaristas estava acompanhado por um morador da comunidade, identificado como Joel, e pelo engenheiro florestal Renato Farac Galata, 41 anos, que conheceram na assembleia indígena.

No boletim de ocorrência, por roubo, consta que foram levados os passaportes de Ana e Philippe, além de cartões bancários, um crachá de identificação de jornalista internacional, duas câmeras e lentes fotográficas, baterias, dois celulares, uma bolsa e outros objetos.

O caso de Ana, Philippe e Galata está sendo acompanhado pelas defensorias públicas da União (DPU) e de Mato Grosso do Sul (DPE-MS). Embora tenha atendido as vítimas e registrado um boletim de ocorrência, a Polícia Civil deixou a investigação do caso a cargo da Polícia Federal, pois o fato ocorreu em contexto de disputa de terras envolvendo comunidades indígenas e em razão desse conflito.

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) disse lamentar e repudiar profundamente o ataque aos três profissionais que estavam produzindo um documentário sobre os povos da etnia guarani kaiowá. A pasta informou ter solicitado apoio à Força Nacional assim que foram notificados sobre a agressão.

Uma preocupante onda de violência e ameaças contra jornalistas, documentaristas e indigenistas envolvidos na cobertura da realidade das comunidades indígenas tem chamado a atenção para a importância de medidas de proteção e garantia da liberdade de imprensa. O ataque sofrido por Renaud Philippe, Ana Carolina Mira Porto e Renato Farac Galata reforça a urgência dessas questões. A sociedade civil e os órgãos governamentais precisam se unir para garantir que este tipo de violência não fique impune e para assegurar a segurança e o direito de manifestação e expressão desses profissionais, que desempenham um papel fundamental na denúncia de abusos e na visibilidade das lutas dos povos indígenas.

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