Onda de calor coloca São Paulo à beira de apagão, refletindo erros na expansão urbana, apontam especialistas.

O calor intenso que assola a cidade de São Paulo tem levado a capital paulista à beira de um colapso energético, demonstrando falhas no planejamento urbano em relação à edificação dos prédios. De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, com a incorporação de tecnologias como o ar-condicionado, deixou-se de lado técnicas construtivas que contribuem para a redução da exposição solar, diminuindo assim a necessidade de sistemas de refrigeração com alto consumo de energia.

Grandes edifícios históricos da cidade, como Copan, Itália e Renata Sampaio Ferreira, apresentam exemplos positivos de adaptação ao calor, utilizando dispositivos como os quebra-sóis. No entanto, a tendência de construções envidraçadas, incentivadas pelo poder público, demonstra um erro na direção oposta. A arquitetura modernista, que utilizava os quebra-sóis como técnica para o conforto térmico, se contrapõe à multiplicação de prédios envidraçados, que enfrentaram oscilações de energia em meio ao aumento recorde do consumo provocado pela onda de calor.

Na metade deste ano, a gestão do prefeito Ricardo Nunes e a Câmara Municipal revisaram o Plano Diretor Estratégico (PDE), incluindo menções às mudanças climáticas, mas sem apontamentos práticos para a adoção de medidas específicas de adaptação dos prédios ao calor extremo. Especialistas apontam que a legislação oferece estímulos financeiros a varandas envidraçadas, que acabam se tornando pequenas estufas e obrigam os proprietários à instalação de aparelhos para refrigeração do ar.

A revisão da Lei de Zoneamento, atualmente em discussão na Câmara, pode ser uma oportunidade para aprimorar as medidas de adaptação das cidades ao calor e outras mudanças climáticas. A ampliação da chamada quota ambiental, impondo exigências como permeabilidade do solo e áreas verdes, é uma das sugestões para tornar as cidades mais resilientes.

De acordo com a engenheira civil Denise Duarte, a aplicação da quota ambiental em lotes menores ajudaria a cidade a suportar as ondas de calor e outros eventos provocados pelas mudanças climáticas. Outras estratégias apontadas por especialistas incluem a geração de energia a partir de painéis solares, pequenas turbinas eólicas e a captação de água para auxiliar na retenção em situações de enchentes.

O secretário-executivo de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo, Gilberto Natalini, afirmou que a prefeitura está trabalhando para se tornar mais resiliente às mudanças climáticas, com 43 metas e 54 ações voltadas à mitigação e à adaptação. A aplicação do Plano Climático de São Paulo envolve praticamente cem por cento das secretarias da cidade.

Em suma, o calor extremo que afeta São Paulo tem exposto falhas no planejamento urbano em relação à adaptação dos prédios ao clima, mas há oportunidades para aprimorar medidas de adaptação e tornar a cidade mais resiliente às mudanças climáticas.

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