Prefeitura de Ouro Preto e outros municípios mineiros processam bancos internacionais por financiar empreendimentos de risco da Vale nas tragédias de Brumadinho e Mariana.

A prefeitura de Ouro Preto, juntamente com outras seis prefeituras mineiras, entrou com uma ação judicial nos Estados Unidos contra os bancos Merril Lynch, Barclays Capital, Citibank e JP Morgan. A acusação é de que essas instituições financeiras financiaram empreendimentos de risco da mineradora Vale, que esteve envolvida nas tragédias de Brumadinho em 2019 e Mariana em 2015. Segundo um levantamento anexado ao processo, esses empréstimos totalizaram US$ 17,2 bilhões desde 2011.

Os bancos são acusados ​​de lucrar com as operações da Vale sem se preocupar com os danos causados ​​às comunidades. Além disso, também são apontados como investidores importantes da mineradora, lucrando com os juros dos empréstimos e com o aumento do valor das ações da Vale. Surpreendentemente, os financiamentos continuaram mesmo após as tragédias ocorridas.

A ação está sendo analisada pelo Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York desde setembro. A prefeitura de Ouro Preto, representada pelo escritório Milberg, informou que também está falando em nome das prefeituras de Barão de Cocais, Itabira, Itabirito, Mariana, Nova Lima e São Gonçalo do Rio Abaixo.

O documento da ação relata que nos últimos anos barragens inseguras foram paralisadas e as populações ao redor delas passaram a conviver com sirenes de alerta de risco de rompimento, sendo que algumas comunidades precisaram ser evacuadas. Essa situação trouxe consequências econômicas, como o aumento dos gastos municipais com apoio às vítimas, desvalorização das propriedades e maiores gastos com saúde, segurança pública e outros serviços sociais.

A ação também aponta danos ao patrimônio físico, cultural, meio ambiente e à qualidade de vida das comunidades afetadas. Segundo o documento, a pressão sobre a população resultou em custos físicos, financeiros e emocionais significativos. Os municípios estão sofrendo perdas de receita, com a diminuição da arrecadação de impostos sobre vendas, devido ao colapso da economia local.

Por fim, a ação solicita que o tribunal leve em consideração a Lei Nacional de Política Ambiental brasileira e defende que Nova York é o local adequado para discutir a questão, uma vez que os bancos estão fora da jurisdição brasileira e as evidências dos empréstimos estão na cidade americana.

As cidades envolvidas na ação estão localizadas no Quadrilátero Ferrífero, região que enfrentou o maior número de evacuações. Essas medidas foram tomadas após a tragédia de Brumadinho, na qual 270 pessoas perderam a vida devido ao rompimento de uma barragem da Vale. A eliminação das barragens construídas pelo método de alteamento a montante se tornou obrigatória após esse incidente, mas a Vale, assim como outras mineradoras, ainda não cumpriu integralmente a legislação.

A prefeitura de Ouro Preto alega que os empréstimos feitos pela Vale desde 2011 resultaram em degradação no Quadrilátero Ferrífero e que os bancos são corresponsáveis pelos danos causados. A ação menciona 21 barragens da Vale classificadas como de alto risco, que armazenam grandes volumes de rejeitos e têm comunidades ao redor. Algumas dessas estruturas não possuem certificação de estabilidade ou já geraram preocupações relacionadas à sua estabilidade.

Os bancos são acusados de terem conhecimento dos riscos dos empreendimentos da Vale e de terem o poder de forçar uma mudança de comportamento na mineradora, mas optaram por não fazer nada e continuaram a conceder empréstimos incondicionalmente. A ação também cita a violação dos Princípios do Equador, estabelecidos pela Corporação Financeira Internacional (IFC) em 2002, que visam a tomada de decisões responsáveis pelas instituições financeiras com base na identificação e avaliação dos riscos ambientais e sociais dos projetos apoiados.

Procurados pela Agência Brasil, os bancos Merril Lynch, Barclays Capital e JP Morgan não se pronunciaram. O Citibank afirmou que “não fará comentários” e a Vale informou que desconhece a ação.

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