Tio do Suspiro: a doçura que encantou as ruas da Água Rasa por quase 60 anos

Juvenal Ferreira Gonçalves, mais conhecido como Tio do Suspiro, foi o responsável por trazer um gostinho doce e inovador para as ruas da Água Rasa, um bairro na zona leste de São Paulo. Nos anos 1950, quando os vendedores ambulantes ofereciam pipoca, sorvete e amendoim, Juvenal decidiu apostar nos suspiros embalados em pacotinhos de papel pardo. Com um carrinho azul adaptado, ele circulava pelas ruas, aguçando os sentidos dos moradores com o som de sua buzina característica.

Juvenal nasceu em 1927 na Fazenda Boa Vista, localizada em Sumidouro, Rio de Janeiro. Desde pequeno, ele ajudava a família na roça, sendo o quarto de 14 irmãos. Após cumprir o serviço militar, ele se mudou para São Paulo e conseguiu um emprego como tecelão no Cotonifício Rodolfo Crespi. Foi na Congregação Cristã do Brasil, no bairro do Brás, que Juvenal conheceu sua esposa, Maria da Conceição, a quem carinhosamente chamava de Bela.

Casados em 1953, o casal foi morar em um pequeno cômodo no quintal da casa dos pais de Bela. No entanto, Juvenal tinha como objetivo principal ter um lugar próprio para chamar de lar e deixar como herança para seus descendentes. Para aumentar a renda da família, ele começou a vender capas de botijão de gás, fronhas, lençóis e roupas de cama feitas por sua esposa.

No entanto, após o nascimento do filho do casal, em 1958, Bela não conseguia mais dar conta da produção. Foi então que Juvenal decidiu investir na venda de doces, especificamente suspiros. Ele comprava os doces de uma fábrica na Vila Maria e saía para vender todas as tardes, após chegar do trabalho como tecelão.

Com o tempo, Juvenal conseguiu comprar um terreno na Vila Ré, também na zona leste, onde construiu sua casa. Esse lugar se tornou o lar de seu filho Josué após ele se casar, além de ser um espaço de convivência para os netos. Juvenal adorava contar histórias da sua infância na roça e era conhecido por ser uma pessoa ativa e prestativa. Cuidava dos cães e das plantas no quintal e sempre tinha uma receita de chá para quem estivesse doente.

Mesmo depois de se aposentar do trabalho como tecelão em 1987, Juvenal continuou vendendo suspiros até 2015, quando tinha 88 anos. Ele foi um homem dedicado à família, que deixou sua amada esposa, um filho, três netos e três bisnetos. Juvenal faleceu em agosto devido às complicações de uma pneumonia. Sua história ficará marcada não apenas pela venda de suspiros, mas também pelo carinho e afeto que ele transmitiu a todos que tiveram a sorte de conhecê-lo.

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