Gastos emergenciais da Prefeitura de São Paulo aumentam em mais de 10 mil por cento em cinco anos, aponta auditoria do TCM.

O aumento exponencial nos gastos da Prefeitura de São Paulo com obras emergenciais, que dispensam licitação, nos últimos cinco anos tem chamado atenção. De acordo com uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Município (TCM) em contratos das secretarias municipais de Infraestrutura Urbana e Obras e de Subprefeituras, os gastos passaram de R$ 20 milhões em 2017 para R$ 2,1 bilhões em 2022, durante a gestão de Ricardo Nunes (MDB).

O aumento é ainda mais preocupante quando comparado ao último ano completo de Bruno Covas (PSDB) como prefeito, em 2020, registrando um aumento de 1.313%. Vale ressaltar que nesse mesmo período, a inflação acumulada foi de apenas 35%, segundo o IBGE.

A Prefeitura de São Paulo justifica esse aumento expressivo nos gastos alegando que ele se deve às demandas encaminhadas pelas subprefeituras à Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras, assim como ao agravamento das situações de risco em encostas e margens de córregos, principalmente nas regiões periféricas. Alegam também que todas as contratações são realizadas após vistorias da Defesa Civil e engenheiros da pasta, que atestam o risco iminente, além do parecer jurídico assinado por um procurador do município.

No entanto, especialistas em direito afirmam que o modelo de dispensa de licitação oferece riscos à transparência e à economicidade na administração pública. Roberto Dias, advogado e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca que a licitação tem como objetivo preservar o patrimônio público e garantir igualdade na concorrência, evitando gastos acima das exigências legais.

A auditoria do TCM constatou que a maior parte das contratações sem licitação ocorre em regiões mais afastadas do centro da cidade, onde há um histórico de problemas e crescimento desordenado. O relatório aponta que, em 90% dos casos analisados, houve falta de planejamento por parte da secretaria responsável pelas obras, caracterizando uma “emergência fabricada”. Além disso, os auditores identificaram casos de superfaturamento e serviços injustificados, resultando em prejuízos de milhões aos cofres públicos.

Uma preocupação destacada é o descumprimento do prazo estabelecido pela Lei de Licitações para contratos emergenciais, que é de 180 dias. O relatório aponta que mais da metade das obras não foram concluídas dentro desse prazo. A prefeitura alega que o prazo pode ser prorrogado, conforme jurisprudência do Tribunal de Contas da União (TCU).

Diante dessas constatações, a bancada feminista do PSOL solicitou ao Ministério Público que investigue possíveis práticas de improbidade administrativa por parte do prefeito Ricardo Nunes, relacionadas ao superfaturamento de R$ 67 milhões.

As informações obtidas pelo TCM são parte de um processo ainda em andamento, e os técnicos do tribunal agora estão analisando as respostas enviadas pela gestão Nunes. Após a conclusão do processo, ele será levado à deliberação do plenário do TCM.

Cabe ressaltar que a Prefeitura de São Paulo afirmou que todas as obras foram acompanhadas por engenheiros fiscais de forma eficiente, sem intercorrências. Ainda assim, a questão dos gastos com obras emergenciais sem licitação permanece como um tema preocupante, levantando questionamentos sobre a transparência e a legalidade desses processos.

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