OMS divulga relatório global sobre hipertensão que afeta um em cada quatro brasileiros na faixa etária entre 30 e 79 anos.

Um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) durante a Assembleia-Geral da ONU revela que um em cada quatro brasileiros entre 30 e 79 anos possui hipertensão. Isso equivale a cerca de 50,7 milhões de pessoas vivendo com pressão alta no país. No entanto, para alcançar a meta de controlar 50% dos casos, seria necessário que mais 8,4 milhões de pessoas recebessem um tratamento eficaz.

Esses dados estão em consonância com os resultados do Covitel 2023, um inquérito telefônico de fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis em tempos de pandemia. Esse estudo também indicou um aumento da hipertensão no Brasil nos últimos anos, com uma prevalência maior entre as mulheres. Essa diferença de gênero é um aspecto relevante e se relaciona a múltiplos aspectos da vida social das mulheres, além dos fatores biomédicos. O desemprego, principalmente entre as mulheres negras, tem uma relação direta com o agravamento dos quadros de hipertensão.

Além disso, outros fatores contribuem para o aumento da prevalência da hipertensão no país, como a baixa qualidade dos transportes, a ausência de escola integral para os filhos, o preço dos alimentos e a exposição à violência urbana e de gênero. Nesse sentido, a antropóloga Soraya Resende Fleischer destaca a importância de ir além da prescrição de medicamentos e mudanças de hábitos. Para ela, é essencial compreender os arranjos domésticos e o contexto em que as pessoas vivem com hipertensão, incluindo quem compra e cozinha os alimentos e o papel dos alimentos e do exercício na história de cada pessoa.

O relatório da OMS também apresenta dados alarmantes a nível mundial. O número de adultos hipertensos dobrou entre 1990 e 2019, chegando a 1,3 bilhão de pessoas. A hipertensão não controlada está associada a cinco das dez maiores causas de mortalidade no mundo. Além disso, a doença aumenta o risco de descolamento de retina, infarto agudo do miocárdio e perdas de visão e audição.

Entre os fatores de risco, destaca-se o crescimento das taxas de sobrepeso e obesidade no Brasil. Mais da metade da população brasileira estava com excesso de peso no primeiro trimestre de 2023, o que representa um aumento de quase 10% em relação ao mesmo período de 2022. Especialistas apontam que o processo de transição nutricional e econômica das últimas décadas contribuiu para esse aumento, mas também ressaltam a importância dos contaminantes ambientais, como metais pesados e pesticidas, no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e altos níveis de estresse.

Outro desafio enfrentado pelos profissionais de saúde é a subnotificação dos casos de hipertensão, especialmente nas regiões mais pobres do país. O acesso médico nessas regiões ainda é bastante difícil. Dados do programa Previne Brasil mostram que mais de 80% dos municípios não conseguem aferir a pressão arterial de metade de seus hipertensos a cada seis meses.

A hipertensão arterial é conhecida como “assassina silenciosa” devido à falta de sintomas perceptíveis. A detecção e o tratamento precoces são fundamentais para melhorar a saúde das pessoas afetadas. No entanto, o relatório da OMS estima que apenas 54% dos adultos entre 30 e 79 anos em todo o mundo receberam o diagnóstico, 42% foram tratados e apenas 21% têm a hipertensão controlada. Portanto, medidas mais efetivas são necessárias para combater essa doença que se tornou uma preocupação global.

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