Arqueóloga carioca Tania Andrade Lima é premiada internacionalmente por descoberta do Cais do Valongo, símbolo da escravidão no Brasil.

A arqueóloga carioca Tania Andrade Lima foi premiada com o Hypatia Award, concedido pela Confederação dos Centros Internacionais para a Conservação do Patrimônio Arquitetônico em reconhecimento ao seu trabalho no campo da arqueologia. Ela se tornou a segunda mulher brasileira a receber esse prêmio internacional, depois da arqueóloga Niède Guidon em 2020.

Tania recebeu o prêmio por sua descoberta do Cais do Valongo, localizado na região portuária do Rio de Janeiro. O cais foi um importante ponto de chegada de mais de 1 milhão de escravizados vindos da África. Em 2017, o Cais do Valongo foi reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco, o que aumentou ainda mais a importância de sua descoberta.

Para o diretor do Museu Nacional da UFRJ, Alexander Kellner, o prêmio dado a Tania é um tremendo orgulho para a instituição, que continua contando com a pesquisadora mesmo após sua aposentadoria. Ele também ressaltou a importância do prêmio ter sido concedido a uma mulher, destacando a valorização da qualidade e da igualdade de gênero dentro da instituição.

Além disso, Tania é pesquisadora sênior do CNPq e professora aposentada do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ. Ela fundou o Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade e continua colaborando com orientações e disciplinas. Tania também recebeu outros prêmios ao longo de sua carreira, como a Comenda da Ordem do Mérito Cultural e o Prêmio Globo Faz Diferença.

A arqueóloga enfatizou a importância do reconhecimento da arqueologia como uma área capaz de trazer à tona verdades indesejáveis e dolorosas. Ela ressaltou que o Cais do Valongo denuncia a intolerância e a perversidade humana, além de promover o combate ao preconceito racial. Tania expressou sua gratidão pelo Prêmio Hypatia, que considera um importante passo contra o racismo.

Outro brasileiro premiado com o Hypatia Award foi o padre Júlio Lancellotti, reconhecido por sua luta contra a arquitetura hostil que impede moradores de rua de se abrigarem em espaços públicos e por sua defesa de projetos urbanísticos inclusivos.

Vale destacar que o Cais do Valongo passou a ser coordenado pelo Comitê Gestor do Sítio Arqueológico, criado pelo Iphan em 2023, e conta com a participação de instituições representativas da sociedade civil e do governo. Com sua descoberta, a região da Pequena África, como ficou conhecida, teve sua importância histórica resgatada, contribuindo para a preservação da memória da escravidão no Brasil.

O reconhecimento internacional recebido por Tania Andrade Lima reafirma a importância da arqueologia e da preservação do patrimônio arquitetônico como formas de conhecer e valorizar nossa história. Esse prêmio destaca o papel das mulheres na ciência e na busca pelo conhecimento científico, e reforça a necessidade de valorizarmos e reconhecermos o trabalho das pesquisadoras brasileiras.

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