Trigésimo aniversário da Chacina de Vigário Geral revela brutalidade sofrida por comunidades marginalizadas.

No dia 29 de agosto de 1993, ocorreu a Chacina de Vigário Geral, um dos episódios mais brutais da história do Rio de Janeiro. Cerca de 30 homens encapuzados e armados invadiram a favela e começaram a arrombar casas, atirar contra os moradores e pedir documentos. Ao todo, 21 pessoas foram mortas, incluindo oito membros de uma família evangélica, que foram assassinados dentro de sua própria casa.

A chacina teve início por volta das 23h e as primeiras vítimas foram sete amigos que estavam em um bar jogando cartas e comemorando a vitória da seleção brasileira. O grupo de extermínio atirou uma granada dentro do estabelecimento e, em seguida, fuzilou o local para garantir que não houvesse sobreviventes.

O sociólogo e poeta Caio Ferraz teve um papel fundamental na Chacina de Vigário Geral. Ele organizou os corpos das vítimas do massacre, chamou os parentes e os impediu de levar os cadáveres antes de serem identificados. Ferraz queria mostrar que as vítimas não eram bandidos, mas sim pessoas comuns, como estudantes, ferroviários, mecânicos e donas de casa.

Um mês antes desse massacre, o Rio de Janeiro já havia presenciado a Chacina da Candelária, na qual oito jovens moradores de rua foram mortos. Porém, a morte desses jovens foi minimizada pela população, que os julgava como ladrões e “pivetes”. Já a chacina de Vigário Geral teve uma comoção maior, pois as vítimas eram pessoas com as quais a sociedade se identificava.

O desembargador José Muiños Piñeiro Filho, que foi o promotor dos dois casos, afirma que havia um preconceito sobre os jovens mortos na Chacina da Candelária, o que justificava os assassinatos. Porém, esse preconceito não existia em relação às vítimas de Vigário Geral.

Ao longo dos últimos trinta anos, os casos de criminalização de vítimas de violência em áreas periféricas têm continuado. Recentemente, o adolescente Thiago Menezes Flausino, morto em uma ação da polícia na Cidade de Deus, foi chamado de criminoso em uma publicação da Polícia Militar nas redes sociais.

Em ambos os massacres, houve um esforço por parte das famílias das vítimas para provar a inocência de seus entes queridos. Porém, quando isso acontece em uma família de classe alta, a memória da vítima é preservada e sua imagem é respeitada, enquanto que, nas favelas, a pessoa é vilipendiada.

Apesar de terem passado três décadas desde as duas chacinas, as perspectivas para a mudança desse cenário continuam desafiadoras. O caso da Chacina de Vigário Geral ainda ecoa como um triste símbolo da violência que assola o Rio de Janeiro.

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