Medo da população: Após um mês da Operação Escudo no Guarujá, moradores abandonam a cidade por receio da presença da PM.

A Operação Escudo, liderada pelo secretário de Segurança Pública Tarcísio de Freitas, está completando um mês nesta segunda-feira (28) e tem causado pânico entre os moradores da Baixada Santista, levando muitos deles a abandonarem suas casas. Com a mobilização de mais de 600 policiais, a operação já resultou na morte de 22 pessoas e não há previsão para o seu término.

Relatos de vizinhos e familiares das vítimas descrevem um ciclo de medo que se repete nas últimas quatro semanas. Quando percebem indícios de execuções, abuso de força policial e desrespeito às normas da Polícia Militar, eles protestam e denunciam. No entanto, essas denúncias frequentemente são seguidas por ameaças e intimidações por parte dos policiais, com o objetivo de silenciar testemunhas que possam contradizer a versão oficial. Diante dessa situação, diversas testemunhas têm decidido deixar suas comunidades por medo de represálias.

Em uma favela no Guarujá, três moradores afirmam estar pensando em deixar a comunidade após a morte do encanador Willians Santana. Eles alegam ter ouvido seus gritos de socorro antes de sua morte e ter presenciado uma testemunha sendo coagida. Esses mesmos moradores relatam que o próprio Santana chegou a fugir após receber uma ameaça, mas decidiu voltar para casa no dia em que foi morto. As casas vizinhas já estavam vazias na última quarta-feira (23), demonstrando o êxodo de moradores que vem ocorrendo em várias comunidades do Guarujá.

Na Vila Baiana, outro bairro do Guarujá, um casal de amigos de um ambulante que foi morto por policiais decidiu deixar a ilha de forma definitiva. Eles relatam ter ouvido os gritos de socorro da vítima por vários minutos e afirmam que ele apresentava sinais de tortura. A Secretaria de Segurança Pública, porém, afirma que os laudos não confirmam a ocorrência de tortura.

Em Santos, policiais têm retornado aos endereços onde dois homens foram mortos pela PM, buscando conversar com testemunhas dos casos. Esses relatos mostram que as mortes não estão sendo investigadas de maneira adequada, pois a própria polícia tem procurado interferir nas investigações.

A Secretaria de Segurança Pública alega que a reação dos criminosos tem sido a causa das mortes ocorridas durante a Operação Escudo. No entanto, a maioria dos casos não resultou em ferimentos em policiais. Até o momento, a operação resultou em dois policiais atingidos por armas de fogo, ambos em estado grave. Além disso, um delegado da Polícia Federal também foi baleado e seu estado de saúde é considerado grave.

A SSP informou que, em um mês de operação, um total de 621 pessoas foram presas, incluindo 236 foragidos da Justiça, e foram apreendidos 900 quilos de drogas e 82 armas. Segundo a secretaria, os laudos das mortes estão sendo feitos de maneira rigorosa e dentro das normas legais. A pasta ressalta que denúncias podem ser feitas em qualquer unidade da Polícia Militar, incluindo a Corregedoria da Instituição, e que desvios de conduta são rigorosamente apurados.

Na quarta-feira, foi possível observar um reforço policial em Guarujá, com viaturas dos Batalhões de Ações Especiais de Polícia circulando em grupo e com luzes de alerta ligadas. As últimas mortes ocorreram na noite de quarta-feira, quando um homem e um adolescente foram mortos por PMs. A SSP alega que as vítimas estavam armadas no momento em que os policiais atiraram.

É importante ressaltar que a Operação Escudo foi deflagrada após o assassinato de um soldado da Rota e que três suspeitos foram presos e são réus no caso. No entanto, é preciso investigar de forma imparcial e transparente todas as denúncias de abuso de poder e violência cometidos durante a operação, garantindo a segurança e a integridade da população.

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