Essa cena acabou se tornando um ponto de debate sobre o que pode ou não ser mostrado no cinema, com o diretor francês Jacques Rivette escrevendo um texto influente chamado “Da Abjeção”, no qual discutia as escolhas éticas das representações cinematográficas. Rivette reprovou a cena de Pontecorvo, afirmando que filmes que exibem a morte com sensacionalismo merecem o “mais profundo desprezo” do espectador.
O diretor inglês Jonathan Glazer, por sua vez, parece ter levado a sério a lição de Rivette ao criar o filme “Zona de Interesse”, que aborda o Holocausto sem mostrá-lo explicitamente. O foco do filme está no comandante Rudolf Höss, que morava ao lado do campo de concentração de Auschwitz com sua família, e nas preocupações cotidianas dessa família, enquanto a tragédia humana acontecia literalmente ao lado.
Esse filme levanta a questão de como representar o Holocausto no cinema, já que o tema sempre foi desafiador e delicado. O filme de Glazer evita exibir o sofrimento humano de forma explícita, buscando evocar a “banalidade do mal” descrita por Hannah Arendt em seu livro “Eichmann em Jerusalém”. No entanto, a abordagem de Glazer tem sido alvo de críticas, com o filme sendo acusado de não contextualizar adequadamente a crueldade que ocorria em Auschwitz e de dar uma visão muito próxima da normalidade a um personagem histórico perverso.
A controvérsia em torno de “Zona de Interesse” reflete a dificuldade e sensibilidade necessárias ao lidar com um tema tão grave quanto o Holocausto. O filme de Glazer provoca reflexões sobre os limites éticos da representação do sofrimento humano no cinema e os perigos da estetização excessiva de um tema tão delicado. A discussão sobre como abordar o inabordável continua sendo uma questão fundamental no cinema contemporâneo.