A descoberta levou a Petrobras a implantar a Província Petrolífera do Rio Urucu, o que possibilitou a prospecção, transporte e escoamento dos recursos para o rio Solimões e, posteriormente, para a refinaria em Manaus. Há 20 anos, visitei os poços e pude testemunhar a grandiosidade da engenharia envolvida nesse processo. No entanto, a mesma grandiosidade não se fez presente na infraestrutura do município.
Essa história, infelizmente, não é única. Mostra um exemplo de como os royalties do petróleo, que são frequentemente discutidos no Congresso, ainda estão longe de beneficiar a população brasileira. Em Coari, a explorarão do subsolo não se traduziu em benefícios para a população mais vulnerável. Nas comunidades afetadas pelo gasoduto, as pessoas não têm conhecimento sobre para onde estão indo os benefícios, apenas que as promessas de emprego não se concretizaram em melhoria na qualidade de vida.
Em maio de 2008, a cidade foi abalada pela Operação Vorax da Polícia Federal, que investigou uma quadrilha acusada de participação em um suposto esquema de desvio de verbas públicas na prefeitura local. Segundo a PF, a organização criminosa desviava recursos repassados pelo governo federal e pela Petrobras referentes à exploração de petróleo e gás no município.
A fiscalização feita em 2007 pela Controladoria-Geral da União (CGU), em parceria com a PF, concluiu que os supostos desvios praticados pela prefeitura de Coari geraram mais de R$7 milhões em prejuízos aos cofres públicos entre 2001 e 2006. Desse montante, R$3,1 milhões correspondiam a recursos federais e mais de R$3,8 milhões em receitas de royalties.
Esses acontecimentos deixam claro que a exploração de recursos naturais valiosos como o petróleo e o gás nem sempre se traduzem em benefícios palpáveis para as comunidades afetadas. A população de Coari continua a lutar por transparência e justa distribuição das riquezas geradas pela exploração dos recursos naturais em seu território.
