As críticas de Mearsheimer e Waltz: Guerra em Gaza, interferência da OTAN e o papel do realismo nas relações internacionais

O renomado acadêmico John Mearsheimer é um crítico contundente da política externa de Israel, principalmente em relação à destruição de Gaza. Sua postura não tem sido bem vista pelo establishment político e sua rejeição da interferência da OTAN na Ucrânia gerou polêmica. Por sua vez, em 2012, Kenneth Waltz, outro influente teórico das relações internacionais, provocou a ira do Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Waltz defendia, em seu último artigo publicado em vida, que a paz no Oriente Médio só seria alcançada com o fim do monopólio nuclear israelense na região.

Ambos os realistas, Mearsheimer e Waltz, têm enfrentado críticas por suas posições, mas é importante ressaltar que tratá-los como porta-vozes exclusivos do complexo industrial-militar é um equívoco. O Partido da Guerra, nos Estados Unidos, age em ambos os partidos políticos, Democrata e Republicano, e possui representantes acadêmicos entre teóricos realistas ou liberais. A dicotomia paz versus guerra não funciona nesse cenário, e é fundamental avaliar as posturas de cada pensador diante da realidade da guerra.

Além disso, a análise das duas escolas de pensamento, realismo e liberalismo, muitas vezes ignora o imperialismo como categoria relevante. O intelectual palestino Edward Said destacava a retórica dos impérios sobre sua missão de civilizar e trazer ordem e democracia, enquanto ignoravam as consequências destrutivas de suas intervenções. Said também enfatizava a necessidade de questionar quem está alinhado com esse discurso imperialista e quem se opõe a ele.

Os teóricos realistas e liberais também têm suas contradições. Enquanto a paz é a premissa do realismo político de acordo com Hans Morgenthau, as intervenções militares em nome do liberalismo revelam uma outra face do imperialismo. A abordagem liberal pressupõe a superioridade moral, política e econômica do ocidente sobre o resto do mundo, o que é contestado por muitos críticos.

O embate entre as escolas de pensamento também gera reflexões sobre suas potenciais contribuições emancipatórias. Críticos do neorrealismo de Waltz e outros teóricos realistas ressaltam o potencial emancipatório contido no realismo clássico. Portanto, é importante considerar as diferentes nuances e contradições presentes tanto no realismo quanto no liberalismo.

Miguel Borba de Sá, historiador com formação em Relações Internacionais, destaca a importância de compreender os debates entre as escolas de pensamento e a necessidade de analisar as posições de cada teórico diante da realidade das guerras internacionais. A complexidade das relações internacionais exige uma abordagem crítica e meticulosa, que não se limite a uma visão maniqueísta de paz versus guerra ou realismo versus liberalismo.

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