No entanto, é importante ressaltar que o livro também possui suas falhas, a mais grave delas é a ausência das cientistas brasileiras. Embora não possa corrigir essa falha aqui, posso pelo menos fazer justiça às pioneiras da matemática em nosso país.
O Brasil não possui apenas uma, mas sim três primeiras doutoras em matemática. Marília Chaves Peixoto, Maria Laura Mouzinho Leite Lopes e Elza Furtado Gomide obtiveram seus doutoramentos ao mesmo tempo, no final da década de 1940, e a ordem em que concluíram é apenas um detalhe. Já as doutoras negras vieram um pouco mais tarde, sendo Eliza Maria Ferreira Veras da Silva a primeira delas. Eliza defendeu sua tese na França em 1977 e é hoje professora aposentada da Universidade Federal da Bahia. É justo reconhecer e celebrar suas trajetórias e realizações.
Marília Chaves Peixoto nasceu em Santana do Livramento (RS) em 1921. Em 1943, ingressou na Escola de Engenharia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, onde conheceu Maurício Matos Peixoto, um dos fundadores do Impa, com quem se casou em 1946 e teve dois filhos. Ambos se tornaram professores da Escola de Engenharia e realizaram pesquisas conjuntas que os levaram a reconhecimento internacional. Em setembro de 1949, Marília foi aprovada nas provas de livre docência com o trabalho de pesquisa original “Sobre desigualdades diferenciais de terceira ordem”.
Após Madame Curie, Marília Chaves Peixoto se tornou a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Ciências, em 1951. Ela participou da primeira delegação brasileira ao Congresso Internacional de Matemáticos em 1950, sendo listada nos registros como “esposa do prof. Peixoto”. Infelizmente, faleceu prematuramente em 1961.
Maria Laura Mouzinho nasceu em Timbaúba (PE) em 1917. Aos 15 anos, ingressou na Escola Normal de Recife, onde foi apresentada à matemática pelo professor Luiz de Barros Freire. Em 1935, a família se mudou para o Rio de Janeiro, o que marcou um novo ciclo em sua vida.
Continuarei contando mais histórias na semana que vem.