A cultura oferece três respostas para essa questão: uma mãe louca, triste ou má, categorizando esses sentimentos como psicóticos, depressivos ou perversos. A culpabilização da maternidade está intrinsecamente ligada a essas ideias, resultando em uma pressão constante sobre as mães para serem perfeitas e não demonstrarem sentimentos considerados inadequados.
No entanto, é importante ressaltar que não existe amor sem ambivalência. O fato de amarmos alguém nos torna vulneráveis ao sofrimento causado por essa pessoa, o que inclui os filhos. As relações familiares são complexas e permeadas por emoções contraditórias, o que é natural e humano.
A idealização do amor materno “puro” como forma de justificar as exigências impostas às mães acaba por esconder a realidade da ambivalência emocional presente em todas as relações. Essa tentativa de negar nossa humanidade e encobrir sentimentos considerados negativos pode levar a formas de violência, tanto contra si mesma quanto contra os filhos.
A busca por compensações, como o mimar excessivo das crianças, pode ser uma forma de disfarçar a raiva reprimida. A dificuldade em impor limites e a falta de confiança no próprio julgamento são reflexos desse ciclo de negação e compensação, que perpetua um ciclo de culpa e ressentimento.
Portanto, é essencial reconhecer e aceitar a ambivalência dos sentimentos maternos, buscando estabelecer relações baseadas no respeito mútuo, na consideração das diferenças geracionais e na ética do cuidado. O amor incondicional, tão almejado e cobrado, pode ser um ideal inalcançável que gera mais sofrimento do que conexão real com os filhos. A verdadeira maternidade é complexa, com espaço para todas as emoções, inclusive aquelas consideradas “negativas”.