Seria isso uma espécie de presságio? Os memes que fazem a comparação do céu de São Paulo com o da distópica Los Angeles de “Blade Runner” nos fazem refletir se não ignoramos um alerta importante. O futuro sombrio retratado por Ridley Scott no filme de 1982, que situava a trama em 2019, parece ter se tornado presente diante dos nossos olhos.
A distopia, gênero de ficção que propõe um futuro imaginário opressivo e decadente, costuma demonstrar certa urgência em suas representações. George Orwell, ao escrever o romance que se tornaria referência no gênero nos anos 1940, escolheu o título e a época de seu pesadelo totalitário para o ano de 1984.
Já em “O Conto da Aia” (Rocco), de 1985, a autora Margaret Atwood concebeu um futuro teocrático sem uma data exata, mas que atualmente parece situar-se cerca de duas décadas atrás. A ironia é inevitável ao perceber que, mesmo que os escritores fossem profetas, a humanidade parece incapaz de corrigir os erros que levam ao desastre.
A palavra “distopia”, originária do inglês “dystopia” em 1952, nasceu em um período pós-Segunda Guerra Mundial, época em que a memória de um conflito que ceifou 80 milhões de vidas ainda estava fresca. O surgimento do termo, derivado de uma incompreensão do substantivo “utopia”, mostra como a sociedade estava imersa em um clima de tensão e incerteza, com a ameaça do apocalipse nuclear cada vez mais palpável.
Houve também um equívoco na diferenciação entre “distopia” e o antônimo “utopia”. Enquanto a utopia remete a um lugar perfeito e idealizado, a distopia representa o oposto, um local de perturbação e desordem. A fumaça no céu parece embaçar a linha que separa a distopia da realidade, nos levando a questionar se estamos caminhando para um destino caótico e sem volta. Estamos fadados ao colapso se não mudarmos nossa trajetória em direção a um futuro mais sustentável e equilibrado. No entanto, assim como os alertas ficcionais, somos muitas vezes incapazes de corrigir nossos erros antes que seja tarde demais.