Recordo-me de um tempo em que o jornalismo era visto como o “quarto poder”, e as discussões sobre o papel da imprensa eram constantes. No entanto, ao nos depararmos com a vitória de um candidato controverso em 2018, percebi que o adjetivo “polêmico” já não era mais suficiente para descrever suas atitudes e declarações.
Naquela ocasião, fiz questão de ressaltar que o termo “polêmico” havia se tornado um mero artifício no discurso jornalístico, perdendo sua força e significado. Afinal, como qualificar de forma adequada declarações tão extremas e violentas como a que mencionava a necessidade de uma guerra civil e a eliminação de opositores?
Será que não existem palavras mais contundentes e precisas para descrever tais comportamentos? A imparcialidade muitas vezes nos obriga a recorrer a termos neutros, mas será que qualificar atitudes abomináveis como simples “polêmicas” não é, de certa forma, tomar partido?
O desafio da imprensa atual vai além da escolha das palavras. Estamos diante de uma realidade digital e complexa, onde o vocabulário tradicional do jornalismo muitas vezes se mostra inadequado. Diante de líderes populistas digitais, torna-se necessário repensar não apenas as palavras que usamos, mas também as estruturas e práticas jornalísticas em si.
O problema da inadequação da linguagem não está nas palavras em si, mas sim nas questões mais profundas que envolvem a sociedade e a política. A imprensa tem o desafio de se adaptar a essa nova realidade, buscando formas mais eficientes e precisas de comunicar e analisar os acontecimentos. É somente assim que poderemos cumprir nosso papel de informar e promover o debate público de maneira responsável e ética.