Descoberto documento histórico que comprova discriminação às religiões de matriz africana no século 20 no Brasil.

Recentemente, uma estudante de Museologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) fez uma descoberta surpreendente que lança luz sobre a discriminação sofrida pelas religiões de matriz africana no Brasil durante o século 20. Trata-se de um documento amarelado pelo tempo, emitido pela Delegacia Especial de Jogos e Costumes da Bahia em 1961, que exigia permissão da polícia para que as religiões afro-brasileiras pudessem realizar suas atividades.

O achado foi feito por Luiza Lyra de Carvalho Lima, estagiária de museologia, que encontrou o documento enquanto trabalhava no Memorial Mãe Menininha. Nele, era concedida autorização para Maria Escolástica da Conceição Nazaré, mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois, realizar uma festa de caráter afro-brasileiro em Salvador, nos dias 1 e 2 de junho de 1961. Restrições como a proibição de bebidas alcoólicas, presença de menores e toque de atabaques após as 22 horas demonstram a necessidade de controle e discriminação sofrida pelas religiões de matriz africana.

O documento encontrado traz à tona a história de resistência dessas religiões, que foram criminalizadas pelo Código Penal Brasileiro de 1890. Apenas em 1939, durante o governo de Getúlio Vargas, a criminalização foi abolida, mas as Delegacias de Jogos e Costumes, criadas em 1938, continuaram fiscalizando e autorizando o exercício das religiões de matriz africana.

A luta pela liberdade religiosa dessas comunidades é exemplificada pela trajetória de Mãe Menininha, que liderou o Terreiro do Gantois de 1922 a 1986. Seu legado foi continuado por sua filha caçula, Mãe Carmem, que hoje, aos 96 anos, recorda as dificuldades enfrentadas pelas religiões de matriz africana no passado. A descoberta desse documento histórico ressalta a importância de preservar a memória e o legado das tradições afro-brasileiras, reforçando a luta contra a discriminação e exclusão social.

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