O achado foi feito por Luiza Lyra de Carvalho Lima, estagiária de museologia, que encontrou o documento enquanto trabalhava no Memorial Mãe Menininha. Nele, era concedida autorização para Maria Escolástica da Conceição Nazaré, mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois, realizar uma festa de caráter afro-brasileiro em Salvador, nos dias 1 e 2 de junho de 1961. Restrições como a proibição de bebidas alcoólicas, presença de menores e toque de atabaques após as 22 horas demonstram a necessidade de controle e discriminação sofrida pelas religiões de matriz africana.
O documento encontrado traz à tona a história de resistência dessas religiões, que foram criminalizadas pelo Código Penal Brasileiro de 1890. Apenas em 1939, durante o governo de Getúlio Vargas, a criminalização foi abolida, mas as Delegacias de Jogos e Costumes, criadas em 1938, continuaram fiscalizando e autorizando o exercício das religiões de matriz africana.
A luta pela liberdade religiosa dessas comunidades é exemplificada pela trajetória de Mãe Menininha, que liderou o Terreiro do Gantois de 1922 a 1986. Seu legado foi continuado por sua filha caçula, Mãe Carmem, que hoje, aos 96 anos, recorda as dificuldades enfrentadas pelas religiões de matriz africana no passado. A descoberta desse documento histórico ressalta a importância de preservar a memória e o legado das tradições afro-brasileiras, reforçando a luta contra a discriminação e exclusão social.