Argentina: um retrato de Buenos Aires após 15 anos – pobreza, desemprego e a incerteza do futuro em meio a velhos amigos.

Recentemente, tirei uns dias de férias para revisitar a cidade querida de Buenos Aires, na Argentina. Havia mais de 15 anos que não retornava à cidade, desde que minhas viagens de trabalho para lá haviam cessado. Ao chegar, pude constatar de forma visível a devastadora situação pela qual a cidade passa, com sinais de pobreza nas ruas, imóveis abandonados e um comércio menos pujante do que em tempos passados. A atmosfera da cidade era diferente, e apenas consegui decifrá-la melhor após uma visita a um casal de amigos queridos.

Esse casal, que conheci na infância em Curitiba, possui histórias familiares ligadas aos horrores da ditadura argentina. Criados no Brasil, se reencontraram mais tarde em Buenos Aires para construir uma família. Durante a visita, tivemos a oportunidade de colocar em dia décadas de vida, trocar experiências e discutir sobre o futuro incerto que se apresenta.

Em meio a conversas regadas a vinho, abordamos temas sensíveis como a política atual, o ressurgimento do bolsonarismo e as mudanças drásticas impostas pelo governo Milei em diversos setores. O medo de um futuro incerto pairava sobre nossas cabeças, enquanto lembranças de ditadores e a violência política do passado nos assombravam.

Durante minha estadia, reli “Os Detetives Selvagens”, de Roberto Bolaño, refletindo sobre a instabilidade política na América Latina e como essa marca se perpetua ao longo dos anos. Ao me despedir dos amigos, percebi que a atmosfera tensa que pairava na cidade vinha desse constante fio de incerteza, que nos impede de prever o que o futuro reserva.

Fico pensando sobre as futuras conversas, os próximos jantares e o legado que deixaremos para as gerações seguintes. A certeza que me resta é a do abraço fraterno, do vinho Malbec compartilhado e da solidariedade mútua em meio a um cenário político e social nebuloso na América Latina.

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