Esse casal, que conheci na infância em Curitiba, possui histórias familiares ligadas aos horrores da ditadura argentina. Criados no Brasil, se reencontraram mais tarde em Buenos Aires para construir uma família. Durante a visita, tivemos a oportunidade de colocar em dia décadas de vida, trocar experiências e discutir sobre o futuro incerto que se apresenta.
Em meio a conversas regadas a vinho, abordamos temas sensíveis como a política atual, o ressurgimento do bolsonarismo e as mudanças drásticas impostas pelo governo Milei em diversos setores. O medo de um futuro incerto pairava sobre nossas cabeças, enquanto lembranças de ditadores e a violência política do passado nos assombravam.
Durante minha estadia, reli “Os Detetives Selvagens”, de Roberto Bolaño, refletindo sobre a instabilidade política na América Latina e como essa marca se perpetua ao longo dos anos. Ao me despedir dos amigos, percebi que a atmosfera tensa que pairava na cidade vinha desse constante fio de incerteza, que nos impede de prever o que o futuro reserva.
Fico pensando sobre as futuras conversas, os próximos jantares e o legado que deixaremos para as gerações seguintes. A certeza que me resta é a do abraço fraterno, do vinho Malbec compartilhado e da solidariedade mútua em meio a um cenário político e social nebuloso na América Latina.