Em meio ao cenário de lama, entulho nas ruas e o cheiro forte ainda presente na região, as crianças anseiam por abraçar suas professoras e rever os colegas da escola. Para ocupar o tempo ocioso, a igreja ao lado cedeu uma sala onde as atividades recomeçaram, envolvendo 30 crianças de diversas escolas da região, que até o momento não reabriram.
Durante uma visita da reportagem ao projeto, as crianças participaram de atividades de pintura, retratando os alagamentos e a reconstrução de suas casas em desenhos. As memórias das fortes chuvas são evocadas de forma lúdica pelas crianças, que, apesar da saudade da escola e tristeza pela perda de pertences, encontram leveza ao relembrar o momento em que foram resgatadas de suas casas.
Os adolescentes, por outro lado, apresentam uma visão mais crítica da situação, expressando receio pela perda de material escolar e lamentando a perda de objetos de valor, como roupas e eletrodomésticos. A falta de preparo das autoridades para lidar com chuvas intensas e o longo período de permanência em abrigos ou casas de parentes também são temas levantados pelos jovens.
A psicanalista Katia Radke ressalta a importância de estimular as crianças a expressarem seus sentimentos e vivências, além de alertar para os efeitos psicológicos causados por traumas como as enchentes. Com a retomada gradativa das atividades e a compreensão das perdas, é essencial fornecer apoio emocional e cuidados especiais a essas crianças que enfrentaram situações trágicas em tenra idade.