O inquérito conduzido pelo MPF é parte de uma série de investigações que buscam esclarecer a associação de empresas ao regime militar para a perseguição política de trabalhadores. Em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Ministério Público Federal apurou diversas evidências de que a administração portuária de Santos, através da Companhia Docas de Santos (CDS), teve participação ativa no planejamento do golpe militar de 1964, contribuindo financeiramente e atuando em conjunto com órgãos de repressão.
Com base nas informações levantadas, foi constatado que a CDS possuía uma estrutura de policiamento interno no Porto de Santos para monitorar as atividades dos funcionários, sendo que, a partir de 1966, esse monitoramento se tornou repressivo com a criação do Departamento de Vigilância Interna (DVI). Este departamento agia em colaboração com órgãos de repressão do regime militar, resultando em demissões e até mesmo prisões de trabalhadores sindicalizados.
A perseguição aos sindicatos de trabalhadores do porto também foi intensa durante todo o período da ditadura, com intervenções, afastamentos de diretorias e casos de tortura sendo amplamente registrados. Mesmo após a transição da CDS para a Codesp, em 1980, a repressão e a perseguição a sindicalistas no Porto de Santos continuaram, criando um ambiente hostil para os trabalhadores que lutavam por seus direitos.
Diante de todas as evidências levantadas durante a investigação, o MPF busca agora que a Autoridade Portuária de Santos reconheça o passivo histórico de perseguição política e repressão sindical durante a ditadura militar e assuma o compromisso de reparar os danos causados, tanto às vítimas quanto à sociedade em geral. A Agência Brasil entrou em contato com a Autoridade Portuária do Porto de Santos para obter um posicionamento sobre o assunto, porém até o momento da publicação desta reportagem, não obteve retorno.