Ao final do expediente, por volta das 17h, Maria se junta a porteiros, empregadas domésticas e outros trabalhadores que se dirigem a pé até a favela de Paraisópolis. Nessa caminhada curta, é possível observar o contraste entre os muros altos dos condomínios de luxo e a paisagem humilde da comunidade.
O edifício Penthouse, outrora símbolo da desigualdade devido à sua imagem de varandas com piscinas e vista para a favela, hoje apresenta um aspecto decadente. A fachada com tinta descascada e piscinas com água esverdeada refletem a falência do modelo urbano de segregação social.
O zelador de um prédio vizinho, Francisco Serino, relata que a região passou por uma transformação radical nas últimas décadas, com plantações substituídas por ocupações irregulares de trabalhadores vindos para a capital em busca de emprego. Outros edifícios também demonstram sinais de decadência, refletindo a perda de interesse de locatários em viver em apartamentos espaçosos naquela área.
Além disso, dados recentes mostram que o Morumbi é o segundo bairro de São Paulo com maior desvalorização no preço do aluguel, evidenciando a mudança de preferência por regiões mais centrais da cidade. Pinheiros, por exemplo, obteve uma valorização significativa devido à infraestrutura de transporte público e proximidade com áreas comerciais e financeiras.
Apesar dos obstáculos de deslocamento e da imagem emblemática de desigualdade, Penthouse e Paraisópolis não representam completamente o abismo social brasileiro. O fotojornalista Tuca Vieira destaca que os muito ricos não habitam o edifício Penthouse, e a favela de Paraisópolis apresenta dinamismo econômico que beneficia seus moradores.
Vieira ressalta que a segregação social pode estar ainda mais intensa em condomínios como Alphaville, tornando a desigualdade ainda mais difícil de ser fotografada. Ainda assim, a imagem do contraste entre ricos e pobres continua sendo um dos principais símbolos da realidade social brasileira.