Durante cerca de 15 horas, tentamos que o parto fosse normal. Meu companheiro estava ao meu lado o tempo todo, mesmo que em alguns momentos fosse mais incômodo do que reconfortante. Na primeira vez em que segurei minha filha nos braços, ele permaneceu em silêncio, talvez por respeito ou encantamento, mas sua presença era calorosa e familiar.
Em um momento de caos e imposições da vida, enquanto amamentava Rita e tirava leite com a bombinha, a televisão anunciava o inimaginável e inaceitável resultado da eleição. O estúdio da Globo, impessoal e racional, contrastava com a intensidade das emoções vividas. No entanto, meu companheiro estava ao meu lado, inflamado e presente, sem se calar um segundo.
Ao longo de anos marcados por perdas e desafios, ele se mostrou inabalável. Mesmo nos momentos mais difíceis, nas noites frias e manhãs secas, ele estava lá, firme e presente. Minha filha, com seu jeito peculiar de imitar meus gestos, criou um parceiro imaginário, algo que me preocupou inicialmente, mas logo entendi ser parte de sua fase de desenvolvimento.
E assim seguimos juntos, compartilhando a vida em todos os seus altos e baixos. O conforto da presença dele, os gestos familiares, tudo faz parte de uma rotina que agora parece distante. A solidão que se instala sem ele, a dificuldade de encarar as tarefas diárias sem sua ajuda, são desafios que ainda não sei como superar.
A falta que ele faz é evidente, mas não ao ponto de buscar respostas em cartomantes ou esperar por um reencontro. A saudade é parte do luto, um sentimento doloroso que surge diante da ausência. E foi em uma manhã comum que ele se foi, levando consigo uma parte de mim que jamais será preenchida da mesma forma.
A vida segue, as lembranças permanecem e a saudade se torna companheira em meio ao vazio deixado por alguém que foi mais do que um parceiro, foi um alicerce em meio à tempestade. Como jornalista, testemunho essa história de amor e perda, imerso em um mundo de emoções e memórias que se entrelaçam e se transformam a cada dia.