Neste ensaio, Julia de Souza narra a experiência de acompanhar a jornada de seu pai, John, ao longo de uma década marcada pela demência. Ela aborda de maneira sensível e honesta os desafios e emoções envolvidos nesse processo, explorando a complexidade de lidar com a perda e a transformação de um ente querido. A autora questiona o papel da escrita autobiográfica e as fronteiras entre o eu e o outro, entre a literatura de dor e luto e a pretensão estética.
A referência a obras como “Diário de luto”, de Roland Barthes, e a reflexão de Julia sobre a narrativa da doença de seu pai revelam a profundidade e a sensibilidade presente em seu texto. A autora se confronta com o desafio de expressar suas emoções sem cair na armadilha do narcisismo ou da banalidade, buscando uma linguagem que seja ao mesmo tempo honesta e reflexiva.
Ao longo do ensaio, Julia de Souza revela a intimidade de sua relação com o pai, um homem marcado pela erudição e pela busca pelo conhecimento. Ela explora a gradual perda de sua memória e de sua identidade, confrontando suas próprias dúvidas e medos em relação à morte e à finitude. O texto, embora permeado pela elegância e erudição da autora, transmite uma vulnerabilidade e uma coragem admiráveis, convidando o leitor a refletir sobre a natureza da escrita e da experiência humana.
Dessa forma, “John” se destaca como uma obra literária que vai além das convenções estéticas e se aprofunda na essência mesma da condição humana, revelando a força e a beleza que surgem da vulnerabilidade e da autenticidade emocional. É um convite para uma jornada de reflexão e autoconhecimento, que ressoa na alma do leitor e ecoa como um testemunho da vida e da morte, da dor e da esperança.