Enquanto todos os animais se comunicam de alguma forma, a linguagem humana se destaca pela sua capacidade de transmitir significados ambíguos e subjetivos. Essa característica paradoxal da linguagem nos permite alcançar a glória da expressão poética, mas também nos lança na desgraça da incomunicabilidade profunda. A interação entre a necessidade de se comunicar e a impossibilidade de transmitir integralmente nossas experiências e sentimentos gera uma constante tensão que nos move e nos impulsiona a tentar superar as barreiras da linguagem.
O filme “Todos Nós Desconhecidos” (2023) aborda de maneira poética e impactante a trajetória de um personagem interpretado por Andrew Scott, que enfrenta a trágica morte dos pais ainda na infância. Essa perda amorosa exige um profundo trabalho de luto, pois implica em reconhecer e elaborar o que foi perdido junto ao objeto amado. O protagonista do filme se confronta com a falta de garantias diante do imponderável, refletindo sobre a necessidade de aceitar a inevitabilidade do desamparo existencial.
A escritora Carolina Maria de Jesus também aborda o tema do desamparo social e da carência de recursos em sua obra, mas o que a torna grandiosa é sua capacidade de transcender essas condições adversas e dar voz à sua subjetividade diante da pobreza e da invisibilidade. Mesmo o maior dos poetas encontra limitações na linguagem ao tentar expressar a complexidade e profundidade da experiência humana, revelando o desamparo inerente à nossa condição.
Em última análise, o enfrentamento do desamparo estrutural e a busca por consolo nas relações interpessoais emergem como caminhos possíveis para lidar com a vulnerabilidade e a incerteza da existência humana. O individualismo exacerbado e a ilusão da conexão nas redes sociais revelam a profunda solidão e o vazio que muitas vezes permeiam a experiência contemporânea. Assim, a reflexão sobre o desamparo e a busca por significado e conexão com o outro se apresentam como desafios fundamentais na jornada humana em busca de sentido e pertencimento.