Os relatos de Dona Ana remontam à sua infância em uma fazenda, passando pela mudança para Belo Horizonte na fase adulta e suas experiências na comunidade do Aglomerado da Serra. O encontro com estudiosos interessados em suas experiências pessoais revelou um verdadeiro tesouro visual, com imagens de festas, jogos de bilhar, torneios de futebol e momentos cotidianos da vida na favela.
A descoberta dessas imagens, capturadas por fotógrafos locais como João Mendes e Afonso Pimenta, despertou o interesse de artistas e curadores, que viram nas fotografias um novo universo pictórico até então negligenciado por instituições arquivísticas. Suas obras trazem um olhar íntimo sobre as identidades, lutas e conquistas dos moradores da comunidade, revelando um panorama inédito da história recente brasileira.
O reconhecimento artístico internacional não tardou a chegar, com exposições em renomadas instituições de arte no Brasil e no exterior. Os trabalhos de Mendes e Pimenta foram adquiridos por colecionadores e museus, ganhando destaque em publicações especializadas e despertando um interesse crescente pelo imaginário coletivo retratado em suas fotografias.
Em março, a obra dos dois fotógrafos será compilada no livro “Retratistas do Morro”, organizado pelo artista visual Guilherme Cunha. O volume reunirá 146 trabalhos, mergulhando o leitor em um universo de memórias pessoais que se entrelaçam com a história de uma comunidade marcada por desafios e superações.
O legado deixado por esses retratistas do morro é um testemunho visual de uma realidade muitas vezes invisibilizada, mas que agora ganha destaque e reconhecimento. Suas fotografias não são apenas imagens, mas narrativas que resgatam a dignidade, a alegria e a resistência de um povo que, através da arte, pausa o tempo e eterniza sua história.