O levantamento revelou que a receita gerada por conteúdos pagos com potencial de danos às mulheres brasileiras é garantida para a empresa, sem que a maioria desse conteúdo seja categorizado como sensível pelas próprias plataformas. Esse cenário evidencia a fragilidade na regulamentação e no controle desses anúncios presentes nas redes sociais da Meta, incluindo Facebook, Instagram, Messenger e Audience Network.
Questionada, a Meta afirmou que está comprometida com a segurança das mulheres e utiliza tecnologia e revisores humanos para identificar e remover conteúdos que violem suas políticas. No entanto, a empresa não forneceu informações sobre a quantidade de anúncios tóxicos retirados do ar diariamente no Brasil.
O estudo, financiado pelo governo federal, faz parte do programa Brasil Sem Misoginia e aponta a identificação de 550 páginas e perfis que veiculam anúncios considerados tóxicos. A maioria desses anúncios (958) direcionam o cliente para o WhatsApp, um ambiente propício para fraudes e golpes devido à sua característica de falta de rastreamento e mensagens criptografadas.
As ameaças mais recorrentes nos anúncios analisados incluem risco à saúde pública ou individual, desinformação, reforço de estereótipos de gênero, machismo, objetificação da mulher, fraudes e golpes, e uso de identidade falsa. Além disso, a promoção de produtos ligados ao mercado da estética, como clareamento vaginal e redução da flacidez, são recorrentes, trazendo prejuízos à saúde pública e individual.
A pesquisa ainda identificou anúncios que promovem a misoginia, divididos em categorias como desenvolvimento masculino, estratégias para enfrentar processos judiciais feitos por mulheres, autonomia pessoal e financeira, e exploração da fé e espiritualidade feminina. A pesquisadora Luka Franca, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, destaca a forma como as empresas de tecnologia lucram com a promoção da misoginia, explorando a vulnerabilidade das mulheres e perpetuando discursos misóginos.