O comentário do professor foi direto ao ponto: “Pessoas querem ensinar português ‘correto’ mas não conseguem formular o enunciado segundo as regras que defendem (ou defenderiam)”. Essa crítica de Possenti levanta uma questão importante sobre a desconexão existente entre a forma e o conteúdo presentes em diversas tentativas de normatização da língua.
Ao analisar a construção da frase em questão, percebemos que a utilização do “que” como introdução à oração subordinada é uma técnica comum na linguagem oral, apesar de ir contra as normas da língua padrão. Esse conflito evidencia a dificuldade de muitos instrutores em dominar as regras que tentam impor aos outros.
Esse episódio levanta reflexões mais amplas sobre a cultura do conservadorismo linguístico em nosso país. Seria essa uma característica arraigada em diversas esferas da sociedade brasileira, como exemplificado por casos recentes de figuras públicas que cometeram erros gramaticais graves em suas falas e textos.
Um exemplo marcante foi a declaração do então presidente do Superior Tribunal Militar, general Luís Carlos Gomes Mattos, que expôs sua fragilidade linguística ao cometer diversos deslizes durante um pronunciamento. Esses casos demonstram como a falta de domínio da norma culta da língua pode comprometer a credibilidade e a eficácia da comunicação pública.
Diante desse cenário, é fundamental questionar os valores conservadores que permeiam a relação entre norma e variação linguística, assim como a necessidade de revisão constante das práticas normativas. A diversidade linguística deve ser valorizada e respeitada, sem que isso comprometa a clareza e eficácia da comunicação.
Em um momento em que a sociedade brasileira busca se reinventar e repensar seus padrões culturais, a reflexão sobre a língua e suas normas se mostra mais relevante do que nunca. A linguagem é um reflexo da sociedade em que vivemos, e a sua evolução deve ser acompanhada de perto para garantir uma comunicação eficiente e inclusiva para todos os cidadãos.