A trajetória de David Dias: música, umbanda e a luta contra o sincretismo e o embranquecimento na religião

O babalorixá David Dias, sacerdote da umbanda e radialista, compartilha sua paixão pela música e sua crença na importância dessa arte na religiosidade. Para ele, a música está intrinsecamente ligada à umbanda e à cultura africana, proporcionando uma conexão com o passado e servindo como ferramenta de resistência e preservação da cultura negra.

Graduado em Rádio e TV e com uma carreira como DJ, David Dias encontrou na religiosidade uma forma de consolidar sua identidade e atuação em diferentes frentes. Além de desenvolver conteúdos informativos como o Aruanda Podcast, ele concluiu um mestrado em ciência da religião e lançou o livro “Sincretismo na Umbanda”. Nessa obra, o babalorixá aborda o processo de embranquecimento da religião ao longo dos anos e a importância de combater esse sincretismo, que ele considera uma forma de racismo.

Em sua pesquisa, David constatou a dificuldade de encontrar pessoas negras nos terreiros de umbanda e a substituição cronológica de adeptos negros pela inserção de santos brancos na religião. Ele destaca que essa prática é um reflexo do racismo e defende a necessidade de retomar a valorização e exaltação dos ancestrais negros na umbanda.

Além disso, o babalorixá ressalta a importância de preservar a cultura e o pertencimento negro na religião e propõe uma retomada negra, afirmando que não é possível pensar na umbanda sem olhar para a cultura afro-brasileira e sem ler o Brasil.

A atuação de David Dias vai além da religiosidade, pois ele também é fundador do Terreiro Resiste, um movimento que busca valorizar, resguardar e manter a cultura de terreiro através do direito. O movimento angaria fundos para manter advogados que atuam na garantia dos direitos dos terreiros e busca fornecer dados reais sobre a situação dos terreiros vítimas de violência.

Ademais, o babalorixá fundou a Editora Encruzilhadas com o objetivo de transmitir os saberes da população negra e devolver a ancestralidade para o povo de terreiro e para a umbanda. Ele pretende lançar títulos que abordem a religião e a cultura afro-brasileira e sonha em ter artistas como Emicida e Mano Brown falando sobre religião através da editora.

David Dias, como um dos poucos babalorixás negros na umbanda, enfatiza a importância de combater o sincretismo e do embranquecimento da religião e reitera o desejo de não ser o único porta-voz da negritude da umbanda. Ele vê seu papel como uma forma de combater o colonialismo e de promover a valorização da cultura negra na religiosidade.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo