O satélite MethaneSAT foi anunciado pelo EDF (Environmental Defense Fund) há seis anos, como uma forma de monitorar as emissões de metano, um gás invisível que os pesquisadores estimam ser responsável por quase um terço do aumento das temperaturas globais desde o início da era industrial.
O satélite está programado para ser lançado ao espaço em março a bordo de um foguete operado pela SpaceX, de Elon Musk. Nesta quarta-feira (14), o Google anunciou que fornecerá sua estrutura de computação para inteligência artificial, necessária para processar grandes quantidades de dados produzidos pelo monitor de metano em órbita. O MethaneSAT é o mais recente exemplo de como os satélites podem ser usados para detectar emissões de metano de instalações de petróleo e gás, que são mais de 80 vezes mais potentes do que o dióxido de carbono na retenção de calor na atmosfera em um período de 20 anos.
Especialistas afirmam que a redução das emissões de metano é uma das ações de curto prazo mais poderosas para o combate ao aquecimento global. A AIE (Agência Internacional de Energia) afirmou este ano que a indústria global de energia foi responsável por 135 milhões de toneladas de emissões de metano em 2022, ligeiramente abaixo dos níveis recordes de 2019. Satélites detectaram mais de 500 eventos de “superemissão” em 2022 em operações de petróleo e gás, disse a AIE, além de outros 100 eventos desse tipo em minas de carvão, que podem liberar metano durante ou após as operações.
“Achamos que isso é um grande desafio”, disse Yael Maguire, vice-presidente de Geo Sustentabilidade do Google. “Temos muita esperança de que possamos ajudar todos os cientistas, pesquisadores, instituições do setor público e a indústria de petróleo e gás a construir o futuro mais limpo que todos desejamos.”
O MethaneSAT, que custou US$ 88 milhões (cerca de R$ 437 milhões), foi projetado para medir as emissões de metano que outros satélites não conseguem detectar e identificar problemas onde outros sistemas de detecção não estão procurando. Ele pode calcular as emissões totais, de onde vêm e como mudam ao longo do tempo, fornecendo uma ferramenta para reguladores que estão implementando punições financeiras para infraestruturas com vazamentos.
Patrick Barker, analista da Wood Mackenzie, disse que outros satélites geralmente oferecem alta sensibilidade às emissões com alta resolução espacial ou ampla cobertura espacial que permite observar todo o globo em um curto período de tempo. “O MethaneSAT é o primeiro satélite desse tipo a oferecer o ‘melhor dos dois mundos’ em termos de cobertura espacial e sensibilidade às emissões”, disse.
O projeto, que enfrentou atrasos devido à pandemia e a problemas na cadeia de suprimentos, pode detectar emissões tão baixas quanto 500 kg por hora em áreas tão pequenas quanto 1 km², ao mesmo tempo em que escaneia uma área de 200 km de largura. A conscientização quanto ao papel do metano no aquecimento global aumentou ao longo da última década.
Mais de cem países liderados pelos Estados Unidos e pela Europa se comprometeram, em 2021, em um acordo global para reduzir as emissões de metano em 30% até o final da década. A China, maior emissor mundial do gás, se comprometeu, no ano passado, a rastrear e reduzir as emissões de metano, mas permanece fora do pacto, assim como Rússia e Índia, que também estão entre os maiores emissores do mundo. O EDF afirmou que a parceria com o Google permitirá que a equipe do MethaneSAT utilize Google Cloud, inteligência artificial, mapeamento e imagens de satélite para fornecer o primeiro mapa abrangente que mostre como diferentes tipos de equipamentos contribuem para os vazamentos de metano ao longo do tempo.
“Até o final de 2025, deveremos ter uma imagem muito clara em escala global das principais bacias de petróleo e gás ao redor do mundo”, disse Steven Hamburg, cientista-chefe do EDF. A indústria de petróleo e gás começou a tomar medidas para combater as emissões de metano, conforme os EUA e outras nações passaram a implementar penalidades financeiras e de outras naturezas.
Na COP28, conferência do clima da ONU realizada em dezembro, empresas que representam cerca de um terço da produção global de petróleo e gás, incluindo ExxonMobil, TotalEnergies, BP e Shell, se comprometeram a parar de queimar rotineiramente o metano excedente e eliminar quase todos os vazamentos do gás até o final da década. Cientistas que usam sistemas alternativos de satélite para detectar vazamentos de metano, como o instrumento Tropomi, a bordo do satélite Copernicus Sentinel-5P, disseram que o MethaneSAT preencherá lacunas importantes no sistema de detecção atual do mundo.
“Este satélite foi projetado especificamente para detectar metano e fornecerá dados de domínio público, então é realmente um próximo passo importante”, disse Ilse Aben, cientista sênior do Instituto Holandês de Pesquisa Espacial.