O documento da PRF, ao qual a Folha teve acesso, determina o cancelamento de mais de dez multas, que teriam sido lavradas de forma criminosa após a invasão hacker. A suspeita é de que os fraudadores tenham comercializado informações sensíveis dos servidores na internet, possibilitando o acesso ao sistema e a inclusão das multas. A corporação acredita que a dimensão do problema pode ser maior, atingindo vários estados do país.
As infrações variam de valores de R$ 88,38 a R$ 17.608, e a motivação para a inserção das falsas infrações ainda não está clara. A PRF informou que a Polícia Federal está apurando o caso, juntamente com detalhes sobre como os dados foram obtidos pelos invasores.
Além disso, a corporação afirmou que a expressão “invasão hacker aos sistemas” foi usada de forma genérica para identificar o acesso não autorizado, ressaltando que não houve um ataque hacker ao sistema da PRF, mas sim uma violação das credenciais dos usuários.
Os servidores foram alertados sobre a burla no dia 10 de janeiro e a PRF prometeu implementar medidas de segurança, como a autenticação em dois fatores para acessar o sistema, a fim de evitar novas ocorrências. A corporação também destacou que, além das multas, não houve roubo de dados ou cancelamento de punições, pois isso passa por um rito processual e não é permitido anulá-las via aplicativo.
A Polícia Federal foi acionada para investigar o caso, enquanto a PRF se recusou a fornecer detalhes sobre a quantidade de casos e onde eles aconteceram, alegando que essas informações só estariam disponíveis para profissionais autorizados pelas autoridades responsáveis.
Além disso, servidores anônimos relataram que houve tentativas de abafar o caso na corporação, para não prejudicar o período de transição no Ministério da Justiça e Segurança Pública. O novo ministro, Ricardo Lewandowski, decidiu manter no cargo o diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, desde o início do governo Lula. Entre suas atribuições está a decisão de manter ou não a portaria da PRF que dá poderes para a instituição atuar fora das rodovias, o que está sendo alvo de análise.
Em junho, quando ainda estava à frente da Justiça, Flávio Dino determinou a suspensão de todos os perfis regionais da PF e da PRF nas redes sociais, por suspeita de um ataque hacker contra o perfil da força rodoviária de Sergipe. A conta da instituição havia compartilhado uma publicação em que declarava apoio e pedia doações por Pix ao ex-presidente Bolsonaro. A medida foi tomada após a tentativa de abafar o episódio, que mobilizou novamente a atenção dos órgãos de segurança cibernética.