Investimento em ciclovias não aumenta uso de bicicleta como meio de transporte em São Paulo, aponta estudo da USP.

O uso da bicicleta como meio de transporte na cidade de São Paulo permaneceu praticamente inalterado nos últimos cinco anos, apesar do aumento significativo da infraestrutura viária destinada às bicicletas na capital. Um estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo revelou que, em 2015, a prevalência do uso de bicicleta como meio de transporte na cidade estava em torno de 5%, e que em 2020/2021, o número de ciclistas não sofreu grandes alterações.

De acordo com os pesquisadores, apesar do investimento em quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, é necessário implementar políticas públicas específicas para incentivar um público que ainda faz pouco uso desse modal: as mulheres. O professor Alex Florindo, da EACH-USP, ressaltou a importância de se garantir não apenas espaço para os ciclistas, mas também de implementar políticas públicas que incentivem o uso de bicicletas, especialmente entre mulheres de meia-idade que moram nas periferias da cidade.

Os dados, divulgados na revista científica Preventive Medicine Reports, mostraram que, entre os poucos que declararam usar a bicicleta como meio de transporte em São Paulo, apenas 13% eram do sexo feminino, evidenciando uma disparidade de gênero no uso desse modal.

Este estudo, financiado pela Fapesp e liderado pelo professor Alex Florindo, comparou o uso da bicicleta em São Paulo entre os anos de 2014/2015 e 2020/2021 e identificou um perfil característico daqueles que utilizam a bicicleta como meio de transporte na cidade: majoritariamente homens, mais jovens, ativos e com bicicleta própria.

Além disso, os pesquisadores destacaram a importância das políticas públicas que valorizem o uso da bicicleta, não apenas por contribuir para a saúde pública, mas também por defender a igualdade de gênero, o acesso a serviços e a criação de empregos, bem como por se tratar de um meio de transporte energeticamente eficiente e fundamental para descarbonizar o ar.

O estudo, que ainda está em andamento e está na terceira etapa de coleta de dados, também investigou o impacto do uso de ciclovias na prática de atividades físicas no lazer e sua relação com a prevenção de doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial, que atinge 26,3% da população acima de 18 anos que vive em capitais brasileiras e no Distrito Federal, de acordo com o Vigitel.

Os pesquisadores concluíram que morar próximo a ciclovias incentiva a prática de atividades físicas no lazer, e que houve um aumento na hipertensão e na prática de atividade física entre os anos de 2014/2015 e 2020/2021. No entanto, a maioria das ciclovias ainda está concentrada nas regiões centrais da cidade, reforçando a desigualdade de acesso a esses espaços para práticas de atividades físicas. Ainda de acordo com os pesquisadores, as políticas públicas de promoção das atividades físicas precisam ser focadas na ampliação do acesso a esses espaços, especialmente nas periferias, onde reside a população de menor nível socioeconômico.

Em suma, o estudo revela que, apesar do aumento da infraestrutura viária destinada às bicicletas na cidade de São Paulo, o uso desse modal como meio de transporte ainda é pouco expressivo, especialmente entre as mulheres. Além disso, o estudo destaca a importância de políticas públicas que valorizem o uso da bicicleta, não apenas como meio de transporte, mas também como ferramenta para promover atividades físicas no lazer e prevenir doenças cardiovasculares.

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