As informações colhidas na região indicam que os moradores escutaram os gritos desesperados do catador pedindo por misericórdia antes de ser alvejado, durante a madrugada de sábado (3). A presença de policiais na entrada do barraco impediu a aproximação da família e de outros vizinhos, que se viram em uma situação de impotência diante da fatalidade que se desenrolava diante de seus olhos.
O trágico episódio ganha contornos ainda mais sombrios, uma vez que Silva foi assassinado por policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), o mesmo batalhão ao qual pertencia o soldado Samuel Wesley Cosmo, de 35 anos, que foi morto horas antes em Santos, cidade vizinha. As circunstâncias que levaram à morte de Silva são objeto de controvérsia.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) alega que os policiais deram ordem de parada a um suspeito que teria fugido e disparado contra eles. Segundo a SSP, foram encontradas porções de drogas, uma pistola 9mm e um caderno de anotações na posse do catador. No entanto, a família e vizinhos contestam essas provas, alegando que elas foram forjadas, e afirmam que Silva não possuía arma de fogo nem estava envolvido em atividades criminosas.
Além disso, relatos de testemunhas apontam que Silva teria sido abordado por policiais próximo à sua casa e levado até o barraco onde morava, onde teria sido alvejado enquanto pedia clemência. A presença de policiais no local bloqueou o acesso à viela onde estava o barraco por pelo menos uma hora, e não houve perícia no local da morte, segundo os moradores.
A morte de José Marcos Nunes da Silva choca a comunidade de catadores de lixo da região, que relatam o medo e a insegurança diante da possibilidade de serem as próximas vítimas deste tipo de violência. Silva, conhecido como Véinho, trabalhava desde criança no lixão de São Vicente, e, segundo a família, não apresentava qualquer histórico relacionado a envolvimento com crimes.
A tragédia que envolveu a morte de José Marcos Nunes da Silva coloca em evidência questões cruciais relacionadas à atuação policial e aos direitos humanos, suscitando debates sobre o uso da força e a segurança pública. Os relatos da família e dos moradores da favela de Sambaiatuba trazem à tona a necessidade de um esclarecimento rigoroso e imparcial sobre as circunstâncias que levaram à morte desse trabalhador, que deixa um legado de consternação e indignação na comunidade. A preservação dos direitos fundamentais e o respeito à vida de cada cidadão devem ser prioridades incontestáveis em uma sociedade democrática e justa.