“Minha filha quer estudar confeitaria, e meu filho quer competir no skimboard”, lamenta Passos Filho. Ele tentou estimular os filhos a aprender a pescar, mas enfrentou obstáculos impostos por leis que regulam a pesca artesanal na região. A situação se repete em outras famílias, como a do pescador Benedito Serafim dos Santos, 73, cujos dez filhos seguiram caminhos profissionais diferentes, afastando-se da pesca.
Os pescadores apontam as mudanças nas leis ambientais como uma das principais dificuldades enfrentadas. A proibição da pesca de determinadas espécies, as restrições ao uso de certos tipos de redes e as exigências burocráticas para operar legalmente são alguns dos obstáculos citados por eles.
“A pesca do cação é proibida. Se o pescador for flagrado com a espécie no barco, é multado em R$ 5.000 por unidade. É justo vir na rede e ter que jogar fora?”, questiona Santos. Além disso, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca também proíbe o uso da rede de espera, o que limita a capacidade dos pescadores artesanais de capturar peixes com maior valor de venda.
Essas restrições, somadas à falta de interesse das novas gerações em seguir a tradição da pesca, criam um cenário de incerteza para o futuro da pesca artesanal em Boiçucanga. Os pescadores destacam que as leis ambientais e as demandas burocráticas favorecem apenas as grandes empresas pesqueiras, criando barreiras para os pequenos operadores.
Apesar dos desafios, os pescadores continuam buscando formas de manter viva a tradição da pesca artesanal na região. A associação local de pescadores, que já teve cerca de cem barcos cadastrados, agora conta com apenas dez. Eles enfrentam dificuldades não apenas em relação às leis ambientais, mas também em questões práticas, como o assoreamento do canal onde operam.
O desinteresse das novas gerações e as restrições legais impõem desafios significativos para a continuidade da pesca artesanal em Boiçucanga. As tradições ancestrais enfrentam um cenário cada vez mais difícil de ser mantido em meio a transformações sociais e regulatórias. A preservação desse modo de vida e de trabalho se torna uma luta que vai além da simples subsistência, mas é também uma batalha pela preservação de uma identidade cultural única e valiosa.