Título: Padre Júlio Lancellotti gera controvérsias em seu trabalho de assistência à população de rua
Sempre existe alguém disponível para uma conversa descontraída nas portas de botecos, mercadinhos e sobrados das ruas com trânsito calmo entre a Mooca e o Belenzinho, na zona leste de São Paulo. No entanto, o assunto do padre Júlio Lancellotti, 75, responsável pela paróquia São Miguel Arcanjo, parece pesado para muitos moradores e comerciantes da região.
Os diálogos sobre o padre que atua na assistência à população de rua são permeados por xingamentos e críticas diretas. Robert Freire Friedrich, 56, dono de uma lanchonete local, relata que sua lanchonete foi invadida e saqueada há dois meses, e culpa o padre por “encher isso aqui de morador de rua”.
A maior parte da vizinhança atribui ao pároco a responsabilidade pela presença de dependentes químicos, furtos, sujeira e desvalorização dos imóveis. A situação gerou até mesmo um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) por parte do vereador Rubinho Nunes, que atribui ao padre indisciplina e contribuição para a permanência dos assistidos em condição degradante.
Porém, Laura Muller Machado, coordenadora do Núcleo População em Situação de Rua do Insper, defende a estratégia de Lancellotti, dizendo que a aproximação feita por ele, com base no afeto, é o único meio de resgatar quem está à margem. Ela também afirma que o padre não é o responsável pela explosão da população de rua, mas que há uma falta de políticas públicas integradas para esse segmento.
Além disso, o padre enfrenta denúncias e críticas à sua conduta moral, que buscam desacreditar suas intenções. As acusações de natureza política também são frequentes, muitas vezes associadas à sua posição progressista.
No entanto, lideranças religiosas e outros apoiadores defendem a importância do trabalho de Lancellotti e afirmam que o papel da igreja tem sido desvirtuado em decorrência de suas ligações políticas.
Em contrapartida, a Arquidiocese de São Paulo e outros religiosos apontam que Lancellotti tem total autoridade devido às suas funções na estrutura da Igreja Católica, que conferem a ele certa autonomia. Ele também é responsável pela Pastoral do Povo da Rua.
Portanto, embora controvérsias e críticas permeiem o trabalho de padre Júlio Lancellotti, ele continua a desempenhar um papel significativo na assistência à população de rua, desafiando valores contemporâneos e enfrentando resistências políticas e ideológicas.