Durante as últimas décadas, um lago na Antártida que costumava abastecer uma estação científica argentina quase desapareceu devido a uma série de eventos que afetaram o nível de água, chegando a ser tragado por rombos que surgiram no solo congelado da região. A região, uma das mais afetadas pelo aquecimento global, motivou pesquisadores da UFF (Universidade Federal Fluminense) a investigarem como o desaparecimento do lago pode estar ligado às mudanças climáticas na Antártida.
De acordo com Rosemary Vieira, professora do Instituto de Geociências da UFF, o desaparecimento de um lago antártico é algo inédito, mesmo estando ocorrendo com mais frequência no Ártico. A especialista destaca que a península Antártica tem sido especialmente afetada pelo aquecimento global, com menos de 0,5% de sua superfície correspondendo a áreas livres de gelo.
A base argentina Esperanza, localizada a cerca de 600 metros do lago Boeckella, acompanhou a evolução do lago nos últimos anos. Até janeiro de 2001, o lago tinha mais de seis metros de profundidade e era delimitado por uma espécie de represa natural. No entanto, com o derretimento do gelo que compunha a moraina, a barragem perdeu sua capacidade de conter a água, resultando em uma diminuição súbita no nível do lago.
Além disso, o aumento do fluxo de água derretida da geleira Buenos Aires contribuiu para transbordamentos no lago entre 2005 e 2007, danificando inclusive a vizinhança onde habitavam pinguins. Outro fator que pode estar relacionado ao desaparecimento do lago é o aumento da espessura da camada ativa do permafrost, que progressivamente gerou buracos no solo, engolindo a água do lago.
A pesquisadora da UFF ressalta que a mudança de temperatura na península Antártica a partir dos anos 1990, especialmente relacionada às temperaturas mínimas, pode estar associada ao desaparecimento do lago. Ela destaca que o impacto desse processo para o ambiente da região é significativo, já que os lagos são fontes de água e alimento.
Os estudos na região continuarão no ano atual, com uma equipe brasileira se deslocando para a Antártida para dar continuidade às investigações. A pesquisadora ressalta a importância de entender se o processo pode se repetir em outros lagos antárticos, e como isso pode impactar o meio ambiente da região. A ausência de Rosemary Vieira na viagem foi por motivos de saúde, mas ela acompanhará de perto as pesquisas realizadas na Antártida.