Nesse sentido, Marco Neves destaca um fato que deve ser levado em conta: a assimetria nas relações entre Brasil e Portugal. Enquanto os brasileiros veem Portugal como uma “curiosidade histórica” e um destino migratório privilegiado, os portugueses enxergam o Brasil como uma das balizas da sua identidade. O autor ainda ressalta que a recíproca não é verdadeira, sugerindo uma relevante indiferença dos brasileiros em relação aos portugueses.
Embora a formulação xenofóbica cause surpresa pela crueldade, a realidade é que o leitor português médio não tem grande apreço pela literatura brasileira, gerando uma situação de desconforto para escritores brasileiros editados em Portugal.
Por outro lado, a literatura brasileira tem conquistado espaço e notoriedade em Portugal, com autores como José Saramago e Valter Hugo Mãe se tornando best-sellers. Há ainda debates sobre a força ficcional da narrativa brasileira, enquanto a língua portuguesa europeia estaria esteticamente emurchecida.
Neves também destaca a semelhança entre os preconceitos lusos contra a vertente sul-americana da língua e os preconceitos que os brasileiros alimentam em relação à própria imagem no espelho. Para ele, parece ser natural aos portugueses considerar o português verdadeiro como o de Portugal, enquanto os brasileiros falam uma língua menor, ideia que, surpreendentemente, alguns brasileiros também cultivam.
De fato, a relação entre o português de Portugal e o português do Brasil é complexa e carregada de questões identitárias, políticas e culturais que merecem ser debatidas francamente em um contexto intercontinental.
A declaração de Neves suscitou reflexões sobre a relação linguística e cultural entre os países lusófonos, indicando uma necessidade de quebra de preconceitos e abertura para a compreensão mútua. A verdade é que a língua portuguesa é rica e diversa em suas variantes, e tanto Portugal quanto Brasil têm muito a aprender e apreciar um com o outro.