Há décadas, a comunidade japonesa em Tomé-Açu, no interior do Pará, enfrentou uma crise devastadora que ameaçou sua sobrevivência: uma praga que dizimou as plantações. No entanto, foi graças a um engenheiro florestal, Noboru Sakaguchi, que eles encontraram uma solução inspiradora para superar esse desafio.
A proposta de Sakaguchi era simples, mas revolucionária: aprender com a natureza e a diversidade da Floresta Amazônica. Ao observar a harmonia da produção dos ribeirinhos locais, ele inspirou a comunidade japonesa a adotar um sistema agroflorestal, baseado na diversificação das culturas e na harmonia com o ambiente natural.
Atualmente, essa mudança de paradigma trouxe resultados extraordinários para a comunidade japonesa em Tomé-Açu. O exemplo mais significativo é a fazenda de Michinori Konagano, que transformou 230 hectares de área cultivada em um rico ecossistema com diversas culturas, incluindo cacau, frutas, madeira, e óleos vegetais. Além disso, a fazenda também aderiu a práticas sustentáveis, como a produção orgânica e a utilização de técnicas ancestrais japonesas de adubação.
Essa abordagem, que antes era vista como uma alternativa ousada, agora é reconhecida como o maior e mais bem-sucedido experimento econômico do tipo no Brasil. Segundo Osvaldo Kato, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, o sistema agroflorestal demonstrou diversificação das fontes de receita, economia com insumos externos, e benefícios ambientais como a recuperação de solos, absorção de carbono e maior biodiversidade.
Apesar do sucesso do sistema agroflorestal, a continuidade desse modelo nas fazendas de famílias nipo-brasileiras está enfrentando desafios, principalmente relacionados à sucessão. Muitos filhos dos agricultores têm buscado oportunidades em outras áreas ou em outros países, e a continuidade desse legado pode estar ameaçada.
No entanto, a comunidade japonesa em Tomé-Açu está buscando formas de assegurar a continuidade desse modelo. Michinori Konagano, por exemplo, tem compartilhado seu conhecimento com pesquisadores e agricultores interessados em replicar seus métodos, a fim de garantir que a sobrevivência desse modelo não dependa apenas dos descendentes da comunidade.
Assim, a história da comunidade japonesa em Tomé-Açu serve como um poderoso exemplo de como a observação e aprendizado com a natureza podem levar a soluções inovadoras e sustentáveis para desafios socioambientais. E, mais do que isso, demonstra a necessidade de compartilhar esse conhecimento com outras comunidades, a fim de garantir que práticas agrícolas sustentáveis possam continuar a prosperar e beneficiar o meio ambiente e a sociedade como um todo.