Nos últimos anos, a agricultura urbana vem ganhando destaque e reconhecimento, passando de uma ideia utópica para uma necessidade urgente. Com a crise climática global e incertezas em relação à segurança alimentar, ocupar o espaço urbano com hortas e pomares tem se tornado cada vez mais relevante.
Segundo o engenheiro ambiental Luís Fernando Amato-Lourenço, doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pós-doutor pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA – USP) e pela Freie Universität, de Berlim, Alemanha, há uma consciência crescente da necessidade de fortalecer a agricultura local e a segurança alimentar.
Lourenço é autor de um estudo que comparou a agricultura urbana desenvolvida em São Paulo e Melbourne, na Austrália, e destacou as diferenças entre as duas realidades. Enquanto em Melbourne a agricultura urbana é articulada com estratégias de saúde pública, em São Paulo as iniciativas variam entre caráter socioeducativo, baseado em trabalho voluntário e princípios agroecológicos, e voltado para geração de renda, principalmente nas áreas periféricas.
O pesquisador ressalta que em Melbourne, a atividade agrícola urbana é regulamentada por políticas públicas, diferentemente de São Paulo, onde as iniciativas muitas vezes surgem e desaparecem rapidamente. No entanto, destaca-se a criatividade e inovação presentes nas iniciativas de agricultura orgânica na cidade.
Além disso, a pesquisa aponta que São Paulo possui um grande potencial para a implantação de hortas nos topos dos edifícios, uma prática que já é comum em outras cidades como Barcelona e Berlim. A implantação de políticas públicas duradouras é vista como fundamental para o desenvolvimento dessa prática na cidade.
A professora Thais Mauad destaca os benefícios da agricultura urbana, mencionando a expansão da cobertura vegetal, a permeabilidade do solo, o aumento da umidade do ar e a promoção da biodiversidade, que ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Além disso, a produção de alimentos em áreas urbanas reduz a emissão de CO2 pelo transporte veicular e contribui para a segurança alimentar em situações extremas de inundações, queimadas e outras emergências.
Em São Paulo, a agricultura urbana tem crescido e despertado o interesse não só da população local, mas também de pesquisadores internacionais. A cidade apresenta desafios diferentes de outras realidades, mas a criatividade e o potencial para inovação são características que se destacam. A ocupação do espaço urbano com hortas e pomares é uma tendência que promete beneficiar não apenas a segurança alimentar, mas também o meio ambiente e a qualidade de vida da população.